Etimologia diz respeito à origem e à evolução das palavras. Os alvos da etimologia são: a) recuperar o sentido elementar da palavra em questão e b) descobrir como evoluiu. Às vezes os elementos de uma palavra composta ajudam a revelar seu significado. Pode-se ver isso no caso da palavra “hipopótamo, que deriva de duas palavras gregas: hippos — “cavalo” — e potamos — “rio”. Logo, esse animal é uma espécie de cavalo de rio. A palavra grega ekklêsia, que é normalmente traduzida como “igreja”, vem de ek (“para fora”) e kalein (“ chamar ou convocar”). Por isso, no Novo Testamento passou a significar aqueles que eram chamados a sair do grupo dos ímpios para integrar um conjunto de crentes.
O sentido original de ekklêsia era o de uma congregação de cidadãos gregos convocados por um apregoador público para tratarem de assuntos comunitários. O termo grego makrothymia, cuja tradução é “paciência” ou “ longanimidade”, é formado por makros — “longo” — e thymia — “ sentimento” . Na combinação dessas duas palavras o “s” caiu e o significado é o de um sentimento de longa duração, ou seja, controlar os próprios sentimentos por muito tempo. “Paciência” é uma boa tradução. No século XViii, Johann Emesti (1707-1781) advertiu contra o uso da etimologia como método confiável. Ele escreveu o seguinte:
O emprego oscilante das palavras, que ocorre em todos os idiomas, dá margem a alterações frequentes de sentido. São poucas as palavras em qualquer língua que sempre conservam [seu] significado elementar. Portanto, o intérprete precisa tomar muito cuidado para não incorrer numa exegese etimológica precipitada, que normalmente engana muito.
Pode acontecer de uma palavra que sofreu uma evolução assumir um sentido totalmente diferente do original. A derivação a partir do radical de uma palavra quase nunca serve para se chegar ao seu sentido, pois os significados mudam. Por exemplo, o sentido etimológico de entusiasmo é o de “estar possuído por um deus”. Evidentemente, o sentido hoje é bem diferente do original, formado pelos elementos em e deus. A palavra “adeus” deriva de “Deus o acompanhe!”, mas poucos têm esse sentido em mente quando dizem “adeus” para alguém. O verbo comprar origina-se do latim comparare, mas os sentidos de “comprar” e “comparar” hoje são obviamente muito diferentes.
Só é possível entender a conotação atual porque o bom comprador compara os produtos antes de adquiri-los. “Tratante”, no falar de antigamente, não passava de “pessoa que trata de negócios”, mas o caráter desonesto de alguns negociantes (“tratadores”) ocasionou a degeneração de sentido. “Libertino” não passava de “filho de escravo liberto . “Caderno” , do latim quaternum, já não designa a folha de papel dobrada em quatro; nem “ secretário” , o “confidente”, “depositário de segredos” . “Pedagogo” está longe de ser o antigo “escravo que conduzia crianças à escola” . Diante de frases como “Da imbecilidade” de sua natureza não desconfiava, porque conhecia suas forças” , “O povo italiano é um povo hipócrita e “Sinto muito nojo pelo mal que lhe sucedeu”, certamente ficaríamos estupefatos, não soubéssemos se tratasse de frases arcaicas, impraticáveis na linguagem moderna.
Imbecilidade nada mais designava do que a “ fraqueza”, sentido latino, etimológico; hipócrita, em sua etimologia, é “aquele que é ator por natureza, dado a exibições espetaculares”, e nojo, transposto para os dias atuais, daria “pesar” ou até “ luto” . Os significados dessas palavras mudaram bastante com o passar do tempo. O significado original do termo grego eirêriê era paz, antônimo de guerra; depois, veio a significar paz interior ou tranquilidade; depois, bem-estar, e no Novo Testamento é comumente empregado em referência a um bom relacionamento com Deus. É evidente, então, que “a etimologia da palavra não diz respeito a seu significado, mas à sua história”. Às vezes uma palavra adquire sentido completamente diferente daquele dos elementos que a compõem.
A palavra santelmo (“chama azul que nas tempestades principalmente aparece no topo dos mastros dos navios por causa da eletricidade”) tem significado diferente do original: “Santo Elmo” (santo invocado nessas ocasiões), em que “Elmo” entra em lugar de “Ermo”, alteração de “Erasmo”. Quando uma pessoa veste um pulôver, é bem provável que não associe o nome do agasalho com o ato de puxar ou mover alguma coisa sobre outra. Mas, no original inglês pull over, que deu origem ao termo, o sentido literal é esse. “Fidalgo” pouco tem que ver com “ filho d’algo”, e “embora” só vagamente lembra “em boa hora” . Na Bíblia, uma palavra não deve ser explicada à luz de sua etimologia em nossa língua, o que equivaleria a colocar nas Escrituras o que ali não se encontra.
Por exemplo, a palavra bíblica santo não deriva de saudável. Em termos etimológicos, as palavras hebraica e grega para “santo” não significam saúde espiritual. Da mesma foram, o termo grego dynamis (“força”) também não significa dinamite. Afirmar que Paulo estava pensando em dinamite quando escreveu Romanos 1.16 — “pois não me envergonho do evangelho, porque é a dinamite de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” — é fazer uma “etimologia reversa”. “Dinamite” não se enquadra bem com o que Paulo quis dizer, pois “a dinamite explode e o arrasa as coisas, fende rochas, abre buracos, destrói o que está a seu redor” . Contudo, o sentido de dynamis é o de força espiritual dinâmica, ativa, viva. Às vezes acontece de o intérprete bíblico verificar o sentido de uma palavra no grego clássico e supor que o mesmo seja conservado no Novo Testamento. Essa atitude, contudo, pode às vezes levar a sentidos incorretos. Por exemplo, euangelion, no grego clássico, significava a “recompensa por boas novas” dada a um mensageiro. Além disso, os escritores clássicos Sócrates e Xenofonte empregavam essa mesma palavra com o sentido de “sacrifício por uma boa mensagem”, e, posteriormente, ela veio a significar “ a boa mensagem” . No Novo Testamento, adquiriu o significado especial de “as boas novas da salvação” em Jesus Cristo.
Fonte: A interpretação Bíblica – Meios de descobrir a verdade da Bíblia.Roy B. Zuck
Tradução de Cesar de E A. Bueno Vieira
edições vida nova.
Pags: 116- 119
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