Sim. A palavra é ’eretṣ em ambos os casos. Quer se refira a terra em geral, quer a uma área mais restrita, o contexto determinará — como se verifica em muitas palavras da língua portuguesa. Por exemplo, João 3.16 usa a palavra “mundo” (gr., kosmos) no sentido de toda a espécie humana, como objeto do interesse e do amor redentor de Deus; mas, em 1 João 2.15 (“não amem o mundo”), o vocábulo “mundo” é usado no sentido do sistema organizado de rebelião, de auto-satisfação egoísta, de inimizade contra Deus, tudo quanto caracteriza a raça humana que se opõe a Deus. Assim o vocábulo ’ereṣ é usado no sentido do planeta terra, fazendo contraste com os céus (Gn 1.1). Ou refere-se à terra seca, em contraposição com os oceanos e mares (v. 10).
Ou designa um país em particular, ou uma divisão político-geográfica, como “a terra de Israel” (2Rs 5.2, RA). Em Gênesis 2.5-9, ’eretṣ refere-se à área do Éden em que Deus preparou um ambiente perfeito para Adão e Eva morarem. Em quase todos os casos, o contexto nos levará ao sentido correto da palavra terra, segundo o autor do texto. Embora seja razoável presumir que a criação de Deus a que se refere Gênesis 1.1 era “perfeita”, esse fato na verdade não é declarado senão depois do versículo 10. Após a separação entre a água e a terra seca, surge a menção de que a obra da criação era “boa” (heb., ṭôḇ; não é a palavra hebraica traduzida por”perfeito”, tāmîm, que não ocorre senão em Gênesis 6.9, em que se refere à “bênção” de Noé). A “bondade” da obra criadora de Deus é mencionada de novo em Gênesis 1.12, 18, 25, 31 — o último versículo declara: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”.
A luz dessas citações, seria difícil sustentar a ideia de que a obra criadora de Deus em Gênesis 1.2 e daí por diante na verdade não era “boa”; no entanto, em lugar algum se afirma que ela era “perfeita” — ainda que o termo ṭôḇ possa muito bem implicar perfeição.
A respeito da referência à terra como “sem forma e vazia” (heb., ṯôhû wāḇohû) em Gênesis 1.2, não está perfeitamente claro se isso é uma condição subseqüente, resultante de uma catástrofe primeva, como certos estudiosos a entendem (ao interpretarem o verbo hāyeṯāh no sentido de “tornou-se” em vez de “era”). Pode ter sido simplesmente o seguinte: Gênesis 1.1 teria servido de introdução à obra da criação que exigiu seis dias (estágios) criadores, descritos no resto do capítulo 1.
Nesse caso, não existe uma catástrofe intermediária a ser explicada, e os seis dias da criação devem ser entendidos como lançamento dos estágios progressivos, ordenados, em que Deus completou sua obra de criação no planeta Terra, como a conhecemos hoje. Os que entendem hāyeṯāh (“era”) como “tornou-se” (sendo-lhe esse sentido usualmente atribuído quando o verbo é seguido da preposição le, que ocorre antes da coisa ou condição em que algo se “tornou”) acham que se trata de uma catástrofe primeva, possivelmente relacionada à rebelião de Satanás contra Deus, conforme sugere Isaías 14.10-14. Essa passagem parece implicar que, por trás do desafio arrogante do rei da Babilônia contra o Senhor, permanece ali como sua inspiração e apoio o próprio príncipe do inferno, que, em certa ocasião, dissera em seu coração: “Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo” (Is 14.14); essa linguagem dificilmente procederia dos lábios de um rei mortal.
Em 2 Pedro 2.4, lemos que “Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo”. Todos quantos sustentam essa interpretação acreditam que um desastre de grandes proporções perturbou o céu e a terra mencionados em Gênesis 1.1, e, em conseqüência, o planeta precisou ser restaurado — talvez recriado — nos seis dias de criação, cuja obra é descrita em minúcia no resto de Gênesis 1. Devemos entender, entretanto, que não existe declaração alguma, em nenhuma passagem das Escrituras, de que a queda primeva de Satanás foi acompanhada pela ruína total da própria terra; trata-se apenas de uma inferência ou conjectura que pode parecer persuasiva a alguns pesquisadores da Bíblia, mas um tanto fraca para convencer outros. Esse é, em suma, o fundamento da teoria da catástrofe.
Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos
Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia
Gleason Archer
Editora : Vida – pgs: 58-59
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