O poder da palavra escrita

Assim deverá ser escrito…

Palavras escritas tinham grande importância para os antigos. Eles acreditavam que as palavras carregavam consigo uma força capaz de realizar a vontade de quem falava. Na produção de Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille, destaca-se nas cenas cruciais do filme o pronunciamento: “Assim deverá ser escrito…” O roteirista utilizou a frase de forma apaixonada para enfatizar o contraste entre a palavra da terra e a que é do céu. O faraó vale-se da frase para selar um decreto proferido contra Moisés (e Deus). Todavia, a frase, quando utilizada pelo faraó, não tem poder algum: ele e seus deuses são sempre derrotados por Moisés. Em contrapartida, Deus a utiliza de maneira poderosa. Moisés a pronuncia contra o faraó, e o rei descobre que não pode fazer nada além de aceitar o seu destino. No caso de algum ponto ser perdido, a cena final do filme reforça o poder da Palavra de Deus, mostrando um quadro da Bíblia sobre o qual a frase é majestosamente sobreposta.

… assim deverá ser encontrado

Nada é mais estimulante para um arqueólogo do que descobrir palavras escritas em tempos remotos. São como vozes do mundo antigo, raramente compreendidas, contudo falam alto àqueles experimentados em “ouvi-las”. Os profissionais treinados para ler tais escritos são chamados epigrafistas (de uma palavra grega que significa “escrito em cima”; as relíquias escritas são chamadas inscrições, de uma palavra latina que significa “escrever em cima”). Assim como a escrita moderna é preservada em materiais que variam do CD ao cartão postal, também as inscrições do mundo da Bíblia chegaram até nós impressas nos mais diferentes objetos. E, tal como hoje, podem apresentar- se sob as mais diversas formas, desde um trabalho escolar infantil até revelações religiosas. Desse modo, importantes pronunciamentos e documentos foram preservados nos mais resistentes materiais.

As vezes, a escrita aparece sobre metal, porém, exceto pelas moedas, os metais eram reservados para textos e propósitos especiais. Por exemplo, a porção mais antiga que temos da Bíblia é a dos rolos de prata tirados de uma tumba no vale de Hinom. E um registro de valor inestimável, que aponta o local onde foi enterrado um tesouro, está preservado no Copper Scroll (Rolo de Cobre), um dos rolos do mar Morto. As inscrições mais bem preservadas do mundo bíblico encontram-se em artefatos de pedra ou argila. Inscrições em pedra são geralmente monumentais, associadas com edifícios públicos, para comemorar algum evento especial (vitória ou dedicação), ou em conexão com enterros, para preservar um nome ou como memorial. Os tamanhos variam desde os enormes obeliscos, painéis egípcios e estátuas aos pequenos e alongados cilindros usados para registro na Mesopotâmia.

Contrariando a concepção hollywoodiana, os Dez Mandamentos encaixam-se na última categoria. Eles foram provavelmente escritos sobre placas ou tabletes de pedra mais ou menos do tamanho de uma mão humana. As inscrições em argila estão geralmente associadas a comunicações diplomáticas e arquivos arqueológicos. (Todavia, sendo a argila um material barato e durável, era também usada para outros propósitos, como inventários ou controles econômicos.) Aparecem na maioria das vezes gravadas em pequenos tabletes retangulares, sendo a forma de escrita mais antiga a que se parece com uma série de cunhas interligadas — daí o nome cuneiforme. Outro tipo de artefato em argila usado para a escrita comum eram os pedaços de cerâmica ou fragmentos. O termo técnico para os fragmentos que contêm escritos é ostraca.* Eram o material de escrita mais abundante, o caderno do pobre. As inscrições encontradas nesses fragmentos são geralmente cunhadas ou escritas com tinta (obtida por uma combinação de carvão, goma-arábica e água).
* N. do T. – Plural irregular de óstraco.

A literatura sagrada ou de outra ordem, bem como cartas particulares e comerciais, eram escritas com tinta em folhas de material quase equivalente ao nosso papel, como por exemplo o pergaminho — feito de peles de animais, quase sempre de bode ou de ovelha, devidamente preparadas. Havia também o velino, feito de pele de bezerro. O material mais utilizado era feito do junco que crescia nos pântanos ao longo dos rios: o papiro, que também era o nome da planta. De constituição mais delicada, documentos em papiro só se conservam sob condições excepcionais. Eles têm sido encontrados apenas em áreas secas ou guardados em vasos dentro de cavernas como as da região do mar Morto. Há mais de um século, as provas literárias, ao lado de uma vasta quantidade de outros materiais, vêm construindo um impressionante arsenal de evidências em favor da historicidade da Bíblia e de uma crescente iluminação do texto sagrado. Consideremos agora a valiosa contribuição desses artefatos arqueológicos aos estudos bíblicos.

Fonte: Livro: Arqueologia Bíblia- Autor: Randall Price, Editora: CPAD, pags- 25-27