Todavia, outra corroboração da historicidade e antiguidade das narrativas patriarcais é encontrada no relato de uma invasão da baixa Canaã por uma coalizão de reis da Mesopotâmia (veja Gênesis 14). Na batalha seguinte, Ló, sobrinho de Abraão, que vivia em Sodoma, foi capturado e levado com sua família (Gn 14.12). Abraão entrou na guerra e resgatou seu parente e depois da vitória encontrou com Melquisedeque, o rei-sacerdote de Sodoma (vv. 18- 24). Tão especial é este relato que os altos críticos têm sido forçados a chamá lo de farsa ou creditá-lo a uma fonte isolada (separada das supostas fontes documentais da escola da Alta Crítica usadas na composição do livro de Gênesis e baseada no uso de diferentes nomes para Deus no texto e supostamente na influência sacerdotal referida como J = Javista, E = Eloísta, S = Escola Sacerdotal).
O que torna este capítulo tão impressionante é sua listagem de nomes e lugares tão detalhada e precisa (tanto estrangeiros como locais), várias vezes explicada incidentalmente por mais nomes contemporâneos, como “o vale de Sidim” para “o mar Salgado” (mar Morto – v. 3). O u “o vale de Savé” para “o vale dos Reis” (o baixo “vale do Cedrom” – v. 17). Tais esclarecimentos literários estão entre os traços que indicam que este capítulo tenha a marca da antiguidade. Apesar do fato de que aqueles reis nomeados em Gênesis 14 ainda tenham que aparecer nos relatos bíblicos cuneiformes, nós sabemos que os nomes certos estão conectados com os lugares certos. Sabemos disso porque enquanto os personagens específicos não são mencionados fora da narrativa do Gênesis, tais nomes aparecem em vários textos mesopotâmios deste período.
Para demonstrarmos isso, consideremos os nomes de quatro reis do Leste dados em Gênesis 14.1. “Anrafel, rei de Sinar” é visto como um típico nome semita ocidental da baixa Mesopotâmia, encontrado tanto em fontes acadianas como amoritas, e possivelmente conectado com o nome amoreu Amud-pa-ila. “Sinar”, em textos egípcios, é usado para Babilônia. “Arioque, rei de Elasar”, aparece como o Arriyuk(ki)/Arriwuk(ki) nos textos de Mari (amorreus) e Nuzi (horeus). Em Mari este era o nome do quinto filho de Zinri-Lim, rei de Mari. “Quedorlaomer, rei de Elam” é claramente um nome elamita, baseado em termos elamitas familiares: kudur (“servo”) e Lagamar, uma deusa principal no panteão elamita. Ele se encaixa no tipo de nomes reais elamitas conhecidos como um tipo Kutur, e é conhecido de pelo menos três exemplos reais.
“Tidal, rei de Goim”, é bem atestado como uma forma antiga do nome heteu Tudkhalia, que era o nome de pelo menos cinco governantes heteus. Diz-se que um serviu como “rei de povos/grupos,” o que reflete a fragmentação política que existia no império heteu em Anatólia (Turquia) durante os séculos XVIII e XIX a.C. e permitia o tipo de aliança descrita em Gênesis 14. As condições políticas descritas pela aliança em Gênesis 14 e aquela da coalizão transjordaniana dos reis da bacia do mar Morto foram possíveis em apenas um período da história — o início do segundo milênio a.C. Somente neste tempo o registro arqueológico revela que os elamitas estavam agressivamente envolvidos em assuntos da região (o Levante), e somente neste período as alianças mesopotâmicas eram tão instáveis para permitir tal confederação.
O termo “Goim” e uma tradução hebraica da palavra acadiana Umman, um termo usado para caracterizar vários povos que vieram como invasores. Assim, este rei era provavelmente um governante andarilho que assimilou várias tribos e províncias em seus exércitos. Dado este entendimento e a mudança do quadro político, é lógico que um rei elamita encabeçasse uma coalizão mesopotâmica de cidades-estado e lançasse um ataque punitivo contra os rebeldes reis cananeus. Depois deste período, e especialmente durante o primeiro milênio a.C., o mapa político tornou-se completamente incompatível com as condições necessárias para tal formação.
A estes indicadores de historicidade ligados ao tempo, podemos acrescentar 1) a exatidão da rota de invasão tomada pelos reis do Leste, 2) o uso de um termo hebraico para “criados” no versículo 14, que é atestado fora desta passagem apenas no século XIX a.C. Um texto egípcio e uma carta do século XV a.C. de Ta anak e 3) a descrição de Melquisedeque, que acuradamente descreve o ambiente do segundo milênio. Estes detalhes em Gênesis 14, atestados em documentos extrabíblicos de tempo, podiam não ter sido inventados e corretamente atribuídos às suas respectivas nações e ambientes geográficos por um escritor hebreu vivendo num período posterior. Assim, a antiguidade deste relato, dentro do contexto mais amplo das narrativas patriarcais, indica que existe razão substancial para considerar o todo como historicamente acurado.
Arqueologia- Livro: Arqueologia Bíblia-
Autor: Randall Price,
Editora: CPAD
Pags: 78 – 80
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