Os dois cestos de figos

Esse texto está em (Jr 24:1-10)

Os capítulos de 22 a 24 dizem res­peito ao mesmo período, a saber, o reinado de Zedequias, após a primei­ra conquista de Jerusalém e o cati­veiro de seus principais habitantes. Esses acontecimentos formam o ce­nário da visão simbólica de Jeremias (v. Am 7:1,4,7; 8:1; Zc 1:8; 2:1). Se os cestos de figos foram realmente vis­tos, então temos um exemplo nessa parábola da capacidade do profeta-poeta de encontrar parábolas em to­das as coisas —”Sermões em pedras e livros em riachos”. No entanto, como Jeremias começa a parábola com as palavras “Mostrou-me o Se­nhor”, concluímos que o profeta re­cebeu uma mediação especial de Deus. Seus olhos físicos viram o olei­ro nas rodas, mas foram seus olhos espirituais que tiveram a visão dos figos. Em estado de consciência e de responsabilidade, Jeremias recebeu a mensagem divina para Zedequias.

Figos muito bons

Um cesto continha figos bons, temporãos. Esse “figo que amadure­ce antes do verão” ou “fruta têmpora da figueira no seu princípio” (Is 28:4; Os 9:10; Mq 7:1) era tratado como a mais fina iguaria. No dia da calami­dade, dois grupos distintos foram achados —os bons e os maus. Os “fi­gos muito bons” representavam os cativos levados para a Caldéia. Por meio deles, no futuro, Deus restau­raria os seus. Daniel, Ezequiel, os três jovens hebreus e Jeconias (Joa­quim) estavam entre os bons figos. Como essa parábola-profecia deve ter encorajado os desesperançosos exilados! Também serviu para repre­ender os que escaparam do cativei­ro, os quais, julgando-se superiores aos exilados na Babilônia, injuria­ram os antepassados de Deus (Jr 52:31-34).

Figos muito ruins

Ruim é palavra portuguesa que abarca uma infinidade de sentidos de cunho negativo. Cumpre salien­tar, porém, as acepções “inútil”, “sem mérito” e “estragado”, “deteriorado”. Hoje, quando dizemos que uma fru­ta é ou está “ruim”, em geral nos re­ferimos à qualidade do seu sabor, ao fato de não ser ou estar muito palatável (sendo ou estando azeda, amarga, verde etc). De modo que as acepções mencionadas acima de cer­ta forma se perderam nas transfor­mações etimológicas da palavra ou, ao adjetivar outros substantivos, se perdem ainda na subjetividade, im­precisão e abrangência do vocábulo. Lendo os clássicos da literatura, con­tudo, poderemos notar o emprego de ruim com a ideia muito clara, em al­guns casos, de “sem valor“, “inútil”.

No cesto de figos imprestáveis, tão ruins que não podiam ser comidos, temos um símbolo dos cativos de Zedequias e daqueles judeus rebel­des, indóceis e obstinados que perma­neceram com ele. Sobre esses cairia o juízo divino (Jr 24:8-10). Os termos bons e maus são usados não em sen­tido absoluto, mas como comparação e para mostrar o castigo dos maus. Os bons eram olhados por Deus com favor (24:5). Deus estimava os exila­dos na Babilônia como quem vê bons figos com bons olhos e desfez o cati­veiro “para o seu bem”. Levando-os para a Babilônia, Deus também os salvara da calamidade que sobreviria ao restante da nação e os condu­zira ao arrependimento e a uma con­dição melhor (2Rs 25:27-30).

O retorno do cativeiro babilônico e a volta a Deus eram resultado do efeito punitivo da escravidão, um tipo da completa restauração dos judeus. Então, quando o Messias retornar, serão como uma nação renascida em um dia. Tendo-se vol­tado para Deus de todo o coração, todo o povo será um cesto de figos muito bons. No Commentary [Co­mentário] de Lange encontramos esta aplicação: “Os prisioneiros e os de coração quebrantado são como os figos bons, agradáveis a Deus por­que:

1.   conhecem o Senhor e voltam-se para ele;

2.   ele é o Deus deles, e eles são o seu povo.

Aqueles que se mantêm arrogan­tes e confiantes desagradam a Deus e são como os figos ruins porque:

1.   vivem na cegueira tola;

2.   desafiam o julgamento de Deus.

Essa Parábola dos dois cestos de figo pode ser comparada de forma proveitosa com a Parábola do joio e do trigo, de Jesus.

Jeremias era um “figo bom”, um profeta de verdade, mas os falsos profetas, “figos ruins”, tentavam in­fluenciar os cativos na Babilônia e os que estavam em Jerusalém; e o restante da mensagem divinamente inspirada de Jeremias a Zedequias desmentia a autoridade e a inspira­ção dos falsos mestres e mostrava a exatidão da visão dos cestos de figos dados por Deus.

Fonte Consultada:

Todas as parábolas da Bíblia – Uma análise detalhada de todas as parábolas das Escrituras

Herbert Lockyer – Editora Vida

Pags: 66-67


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