Panorama Bíblico sobre a família

Durante todo o período bíblico de Gênesis a Apocalipse, a família sempre foi muito valorizada, isto foi tanto influência da lei mosaica quanto dos ensinamentos de Jesus. O cenário mais natural para o judeu era a família constituída pelo pai, pela mãe e pelos filhos. O apóstolo Paulo ao descrever o relacionamento carinhoso que os crentes deveriam ter entre si usou a imagem da família em Gálatas 6:10. Mas estas famílias também tinham seus problemas assim como as atuais. Havia problemas de maus tratos, conflitos entre pai e filho em entre irmãos, também havia adultério, filhos não concordavam com a opinião dos pais, mas apesar destes problemas corriqueiros e relativos ao ser humano a família sempre foi a instituição mais importante da Bíblia. Nos tempos do Novo Testamento a estrutura familiar já havia sofrido muitas alterações, os pais tinham dificuldades em manter intactas suas tradições, a Palestina já havia sofrido diversas mudanças culturais por causa dos gregos e agora com os romanos, tinham recebido forte influência externa, pais e filhos não concordavam sobre cosméticos, práticas esportivas, vestimentas, práticas religiosas e outras coisas mais, tínhamos uma sociedade modernista.

E o que mais contribuiu para este modernismo foram os novos meios de comunicação e de transporte, se tornou mais fácil viajar e a correspondência era remetida com mais facilidade e chegavam ao destinatário mais rapidamente. As tais estradas traziam viajantes de todas as partes, cada um com suas ideias e seus costumes, eram mercadores, operários, filósofos, etc. Quando Jesus apareceu, suas ideias sociais chocaram tantos liberais quanto os preconceituosos, pois ao passo que ele pregava uma volta aos valores tradicionais, buscava também uma atitude de mais compaixão e compreensão entre as pessoas. Sua receptividade para com as mulheres e para com as crianças deixava as pessoas admiradas e escandalizadas (João 4:27; Marcos 10:13), e alguns de seus ensinamentos sobre perdão e divórcio eram bastante diferentes do que as pessoas estavam costumadas


O pai


Na sociedade judaica o pai geralmente era compassivo e amoroso e não uma espécie de tirano diante do qual todos se curvavam, na família hebraica havia conflitos normais do dia a dia, mas raramente havia conflitos graves, pois autoridade do pai sempre prevalecia. Ele realmente exercia autoridade suprema em seu lar, poderia, por exemplo, divorciar-se de sua esposa sem sofrer com isto nenhuma consequência (Deuteronômio 24:1); o conceito judaico de pai achava-se fortemente associado à paternidade de Deus, por isto o pai era visto como alguém justo e misericordioso; Jesus quando se dirigia em oração a Deus o chamava de “Aba”, que em hebraico significa papai, uma expressão usada por crianças; Paulo de Tarso afirma que a nossa adoção como filhos nos dá o direito de poder chamar a Deus de papai (Romanos 8:15; Gálatas 4:6). A maioria dos judeus amava muito seu pai e a sua admiração por ele era profunda, assim também tinha leal obediência, a expressão mais usada para a morte era: ele descansou com seus pais (1º Reis 2:10), pois se reunir com os pais após a morte era uma das coisas mais preciosas para os judeus. José como pai de Jesus foi um homem paciente e compreensivo (Mateus 1:18-20), o pai descrito na parábola do filho pródigo (Lucas capítulo 15) é a imagem típica do pai judeu, pois deu liberdade ao filho para que fizesse escolha errada, mas vendo-o sofrer as consequências acolheu-o de volta com amor.

Em Atos 16:31 é bastante curioso, pois, nós lemos Paulo dizer – “crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”; pois sabemos que a fé daquele homem não salvaria a sua casa, mas somente a si mesmo; o significado dessa passagem é que se aquele homem se convertesse ao cristianismo toda a sua casa o seguiria nesta nova fé, e a obediência e a admiração ao pai era tanto que sua família se converteria verdadeiramente. O pai tinha a responsabilidade de prover as necessidades de sua família. Se não quisesse sustentá-la, seria considerado o pior do que um incrédulo (1ª Timóteo 5:8), a não ser que fosse fisicamente incapacitado; tinha também de providenciar a educação dos filhos e lhes ensinar o ofício, nas famílias mais pobres os próprios pais se incumbiam disto. O pai judaico era um homem de diálogo, estava sempre conversando com seus filhos durante todo o dia, durante as refeições, trabalho, atividades sociais, durante o descanso noturno, nestas famílias não faltavam o diálogo e todos eram muito amigos; deste modo o pai passava aos filhos todas as suas convicções religiosas, sociais e políticas. Havia também em raros casos pais e filhos que não se gostavam, mas mesmo assim era obrigatória a reverência. O relacionamento entre marido e esposa era também muito amoroso, mas o homem judaico entendia que a sua mulher era sua propriedade como uma casa ou uma cabeça de gado por causa da interpretação errada de Êxodo 20:17.


A mãe


A mulher hebreia era treinada desde criança para ser dona de casa, aprendia com a mãe a lavar roupas, costurar, fazer deliciosos alimentos e sobremesas e a cuidar dos filhos. Durante séculos a mulher dependeu destes conhecimentos para o seu sucesso pessoal, e além de fazer tudo o que está citado acima na maioria das vezes trabalhava também nos campos. A sua liberdade dependia da sua criatividade, ela poderia exercer atividades profissionais como mulher de Provérbios 31, mas se casada, então a sua liberdade deveria ser estabelecida pelo marido, que quase sempre era muito amigo. O Antigo Testamento não obriga mulher a ter uma vida restrita a casa e a família, muito pelo contrário o próprio livro de Provérbios 31 a estimula a negociar e a ter liberdade; as limitações que as mulheres sofriam tinham como origem a tradição criada por maridos autoritários; o Antigo Testamento somente dava realmente mais regalias ao homem, que poderia divorciar-se de sua mulher somente apresentando-lhe um “termo de divórcio” por motivos banais tal como não gostar mais de sua comida (Dt 24.1), enquanto a mulher não poderia fazer nada mesmo que fosse traída pelo marido. Um dos motivos pelos quais os judeus não teriam gostado das pregações de Jesus foi porque o Senhor estabelecia igualdade entre os cônjuges, negando o homem o direito de proceder deste modo (Mateus 19:9).


Filhos


Era um desejo de todo casal ter muitos filhos. Os que não podiam ter filhos eram vistos com olhos de piedade e todos perguntavam – “por que razão Deus não os abençoa?”, a culpa de um casal não ter filhos era sempre dada à mulher, ao homem nunca era atribuído a esterilidade. O casal só se sentia realmente satisfeito se tivesse um filho do sexo masculino, e as meninas sentiam-se menos queridas que os meninos em quase todas as casas; os judeus tinham até uma oração na qual se agradecia a Deus por não ter nascido mulher. Quando havia alguma separação a mulher ficava com a custódia das filhas e o homem com custódia dosfilhos, em raros casos o juiz quebrava este protocolo. Cuidar bem dos filhos para o casal era modo de obedecer a Deus e demonstrar à sociedade a sua competência. A criança, menino ou menina, nos primeiros anos de vida ficava inteiramente sob cuidados da mãe, mas o menino quando um pouco crescido já começava a ser cuidado instruído pelo pai que já o ensinava um ofício e já o educava, assim como a menina continuando sob os cuidados da mãe aprendia todas as coisas relativas às atividades femininas.

É incrível a noção de educação que tinham judeus na época dos tempos bíblicos, pois davam as crianças a possibilidade de crescerem de um modo muito sadio, creio que isto seja consequência da observância das leis dadas por Deus; a criança tinha obrigação de fazer pequenas tarefas em casa, ou com o pai se fosse menino; deste modo adquiriam senso de responsabilidade. As crianças tinham tempo para aprenderem nas sinagogas, de aprenderem com o pai ou com a mãe a sua profissão, tinham suas ocupações que nunca tomavam muito tempo, pois, o tempo dado a elas para brincar também era importante. A proximidade com os pais é muito importante, pois estas crianças viviam numa sociedade pluralista, e sofriam influência de outros povos e outras culturas. Seus pais sabiam que ao sentirem-se bem em seu meio as crianças não optariam por um caminho diferente. As crianças judias brincavam muito e os brinquedos eram construídos pelos próprios pais, eles brincavam de casamentos, sacrifícios, funerais, êxodo, guerras, e tudo o mais que lembrava a sua religião e a sua história, também tinham brinquedos simples tais como apitos, chocalhos, carrinhos de madeira com rodinhas e cordinha para puxar, bolas, balances, bonecas, bolinhas de gude, marionetes, miniaturas de mobílias e vasilhas e talheres para brincar com bonecas, etc.

Tinham também muitos jogos tais como amarelinha, jogo de dados e xadrez. Praticavam esportes tais como o arco e flecha, luta romana, além de manejarem bem uma funda. Até que ponto uma família adotava os jogos gregos dependia da opinião do pai. As crianças eram bem tratadas e amadas, mas também castigadas se fosse necessário (Provérbios 22:15). Mas apesar de todo este aspecto positivo, como em nossos dias havia os maus pais, que poderiam até mesmo matar seus filhos (Levítico 20:9), ou mesmo vendê-los como escravos (Êxodo 21:7; Gênesis 31:15). Mas por que os apóstolos tentavam afastá-las em Lucas 18:15- 17? Porque eles achavam que elas iam importunar o Rabi, que lhes disse: – “deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino dos céus; em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que não for como uma destas criancinhas não herdará o reino dos céus”. A família hebraica sempre foi muito numerosa, e geralmente todos sempre moravam na mesma localidade, as crianças geralmente sempre se davam muito bem como era o caso de João e Tiago, mas em outros casos como o de Esaú e Jacó havia uma certa rivalidade, que na maioria das vezes é causada pela atenção excessiva ao primogênito. Os idosos geralmente viúvos ou não, ainda procuravam prover o sustento para sua própria casa, mesmo depois dos filhos se casarem e morarem em outras casas com suas famílias; mas quando o idoso não tinha mais condições de trabalhar, então era obrigação dos filhos perante Deus e perante a sociedade de arcar com o sustento dos pais do melhor modo que pudesse fazê-lo.

Fonte: Apostila Panorama Bíblico – Universalidade da Bíblia

Pags: 11-14


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