Parábola dos pastores infiéis

Esse texto está em Ezequiel 34:1-31

A profecia parabólica desse capí­tulo se inicia com uma acusação con­tra os governantes gananciosos de Israel, assemelhados aos falsos pas­tores que governam “com rigor e dureza”, cujo pecado era explorar as ovelhas em vez de alimentá-las. “… as minhas ovelhas foram entregues à rapina” (Ez 34:1-10). Após se cum­prir o juízo divino da destruição de Jerusalém, Ezequiel, embora denun­ciando os opressores e os inimigos de Israel, torna-se mais consolador, e suas profecias se enchem de ricas promessas para o povo aflito de Deus. Assim, nesse capítulo, o pro­feta anuncia que Deus livrará o seu povo das mãos dos governantes ego­ístas e perversos que os oprimiam, e ele mesmo os sustentará e protege­rá. Como um todo, o capítulo pode ser considerado uma ampliação da breve profecia de Jeremias (23:1-8). As três divisões do capítulo são:

1. A promessa de condenação dos pastores infiéis (1-10). Por “pastores” não devemos entender profetas ou sacerdotes, mas governantes que, em sua gestão, buscavam satisfazer os seus propósitos egoístas, e não o bem de seus súditos. Esses governantes eram para seus súditos o que os pas­tores são para o rebanho, e essa pri­meira parte do capítulo se enche de acusações por serem esses reis indig­nos (v. lRs 22:17; Mt 9:36). Falta­vam-lhes as qualificações básicas dos verdadeiros governantes. A satisfa­ção excessiva dos próprios desejos le­vou-os a negligenciar o rebanho: “Ai dos pastores infiéis que apascentam a si mesmos”. Os doentes não eram cuidados; os perdidos não eram pro­curados.

Além disso, esses líderes de Israel estavam “gordos e fortes”, mas tratavam com crueldade aque­les de quem deveriam cuidar. Re­petiam muitas vezes o perverso tra­tamento que Acabe dispensou a Nabote. “Não satisfeitos de se apro­priarem dos pertences alheios para benefício próprio, estragavam capri­chosamente o que não usavam, para que não tivesse nenhuma serventia aos seus donos” (Ez 34:18,19). O re­sultado das transgressões ativas e passivas dos governantes de Israel foi o cativeiro e depois a dispersão do rebanho. As dez tribos do Norte tornaram-se peregrinas nas terras da Assíria, e as duas do Sul foram dispersas na Babilônia e no Egito, separadas do remanescente que fi­cou na terra desolada. Contudo, mesmo espalhados por toda parte, o Onisciente sabia onde estava cada uma de suas ovelhas.

2. A promessa do cuidado divino para com o rebanho (11-22). A elimi­nação dos falsos pastores era pré-requisito indispensável para que se levantasse um libertador divino: “… livrarei as minhas ovelhas da sua boca”. Temos aqui a intervenção de Deus a favor de seu povo, Israel (Jr 23:1; Zc 11:17). Em virtude da liber­tinagem geral dos governantes e reis e o abuso ousado do poder, da influ­ência e do contentamento ímpio, Deus encarregou-se da função que os governantes perverteram de modo tão cruel, a saber, a guarda do reba­nho. Essa vigilância divina é apre­sentada numa linguagem repleta de beleza. “Eu, eu mesmo, procurarei […] e as buscarei […] Livrá-las-ei […] Tirá-las-ei […] e as farei vir […] tra­rei à sua terra […] e as apascentarei […] se deitarão numa boa malhada […] ligarei […] fortalecerei”.

Deus deixa claro que não só liber­taria, mas governaria também. “Apascentá-las-ei com juízo”, quer dizer, haveria manifestação de sua discriminação e administração. Ele impediria que os fortes pisassem nos pastos e machucassem os fracos. Os opressores opulentos seriam conde­nados, e os pobres humilhados seri­am enriquecidos.

3.  A promessa da nomeação de Davi como pastor (23-31). Davi foi le­vantado por designação divina, não apenas como governante bom e bene­volente, mas como cabeça da teocracia e como ancestral de Jesus Cristo se­gundo a carne. Davi tipificava o Pas­tor misericordioso e sublime que efe­tuaria de modo perfeito os propósitos de Deus. Na plenitude dos tempos, o Filho do grande Davi, maior que ele, surgiu como o Bom Pastor e deu a vida pelas ovelhas; mas, como os gover­nantes judeus o rejeitaram, o povo de Israel foi espalhado mais ampla e ter­rivelmente do que antes. Depois de reprovar severamente a negligência dos nomeados para cui­dar do rebanho, Deus promete susci­tar um pastor, uma planta de reno­me, que fielmente desempenharia todos os seus deveres e faria jus à confiança nele depositada (Ez 34:2-16,23,24). O termo pastor veio a ca­lhar para Davi na qualidade de “governante”, por ser tipo do verda­deiro Davi (Ez 34:22,23).

O filho de Jessé foi transferido do ofício de pas­tor para o de rei. Sua nova função, como fazia antes com o rebanho, era defender e apascentar seu povo (2Sm 5:2; SI 78:70,71). “Pastor significa rei, não instrutor religioso”, diz Jamieson, “por isso Cristo foi acima de tudo o verdadeiro Davi, por ser o Pastor-Rei (Lc 1:32,33). O Messias é chamado ‘Davi’ em Isaíás 55:3,4, em Jeremias 30:9 e em Oséias 3:5″. Esse grande capítulo se encerra com a absoluta certeza de que o povo escolhido de Deus será o seu rebanho, e ele, o seu Deus (Ez 34:31). Esse pastor-rei es­tabelecerá o seu reino e, sob o seu comando, haverá paz, provisão e pro­teção. Seu rebanho desfrutará dos re­cursos divinos, suficientes para satis­fazer as necessidades de todos, além do cuidado e da vigilância ininter­ruptas do Senhor.

Fonte Consultada:

Todas as parábolas da Bíblia – Uma análise detalhada de todas as parábolas das Escrituras

Herbert Lockyer – Editora Vida

Pags: 103-105


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