Por que Deus ordenou a circuncisão ?

Gênesis 17 não nos dá um raciocínio lógico que justifique o estabelecimento desse rito obrigatório para a família e descendentes de Abraão. Deus simplesmente diz: “Terão que fazer essa marca, que será o sinal da aliança entre mim e vocês” (v. 11). Todo e qualquer descendente de Abraão que se recusasse ou conscientemente negligenciasse a circuncisão deveria ser cortado da aliança da graça de Deus (v. 14). Isso significa que a circuncisão era considerada de grande importância por Iavé, no que dizia respeito à nação de Israel. Romanos 4.9, 10 explica que a salvação não depende da circuncisão, mas, antes, da graça de Deus, que chega ao pecador culpado mediante a aceitação das promessas divinas e da fé no Senhor. A justiça de Deus foi atribuída a Abraão antes de ele ser circuncidado (cf. Gn 15.6; 17.23, 24).

Mas o apóstolo Paulo explica o propósito da circuncisão em Romanos 4.11: “Assim ele recebeu a circuncisão como sinal, como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado. Portanto, ele é o pai de todos os que creem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a eles” (grifo do autor). O rito da circuncisão (i.e., a remoção cirúrgica do prepúcio) teve o objetivo de ser um sinal e selo da aliança estabelecida entre Deus e o crente. Assim como um anel — uma aliança — é sinal e selo de um compromisso mútuo, total e exclusivo entre a noiva e o noivo enquanto viverem, também a remoção sacramental dessa parte do órgão masculino era um testemunho cruento, ou um pacto selado com sangue, pelo qual o crente entregava sua vida a Deus, prometendo solenemente viver para ele, em plena dependência de sua graça para o resto de sua vida terrena.

Sendo um selo, o ato da circuncisão era igual a um atestado de propriedade no AT. Testificava que a pessoa pertencia não ao mundo, a Satanás ou a si própria, mas ao Senhor Deus, que lhe provera a redenção. Em Colossenses 2.11-13, encontramos maiores explicações sobre a função da circuncisão: “Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo.

Ele nos perdoou todas as transgressões”. Incluem-se nesses versículos três importantes conceitos concernentes à circuncisão: 1. A circuncisão envolvia a remoção simbólica do “corpo da carne” como instrumento de perversidade; sem a circuncisão, o corpo do pecador permanecia em estado de “incircuncisão da carne”. 2. A circuncisão pressupõe a fidelidade e o empenho à santidade. Moisés admoesta a congregação em Deuteronômio 10.16: “Sejam fiéis, de coração, à sua aliança; e deixem de ser obstinados”. Isso indica que a circuncisão envolvia a fidelidade no coração, a santidade ao Senhor e a obediência à sua Palavra. (O oposto era a dureza de coração e a teimosa e voluntariosa disposição ao mal, da parte da pessoa). Levítico 26.41 fala de uma geração futura de israelitas levada ao cativeiro. Essa passagem também se refere ao perdão e restauração, com retorno à sua terra “se o seu coração obstinado [ou incircunciso] se humilhar, e eles aceitarem o castigo do seu pecado”.

Um pouco antes do cativeiro babilônico, o profeta Jeremias (Jr 4.4) exortou seus compatriotas — todos os quais sem dúvida haviam sido fisicamente circuncidados quando crianças: “Purifiquem-se para o SENHOR, sejam fiéis à aliança [ou ‘circuncidem os seus corações’], homens de Judá e habitantes de Jerusalém! Se não fizerem isso, a minha ira se acenderá e queimará como fogo, por causa do mal que vocês fizeram”. Então, a circuncisão envolvia a fidelidade a uma vida santa, uma vida de fé em Deus e obediência aos seus mandamentos. 3. A circuncisão representava para o crente do AT o que o batismo significa para o cristão: aceitação ou adoção na família dos redimidos.

Os benefícios da expiação futura de Cristo no Calvário pela graça de Deus foram distribuídos ao crente circuncidado antes do evento da cruz, assim como o mérito da expiação de Jesus e os benefícios salvíficos de sua ressurreição vitoriosa se aplicam ao crente do NT. Em ambas as dispensações, o sinal sacramental, ou selo, foi imposto ao crente (e também sobre as crianças, filhas de crentes, para quem as promessas da aliança eram garantidas pela fé). O mesmo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo ordenou a circuncisão ao crente do AT e o batismo com água da nova aliança — que é uma circuncisão espiritual, de acordo com o versículo 11.

Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos

Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia

Gleason Archer

Editora : Vida – pgs: 83-84


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