A Bíblia registra que no tempo de Abraão, uma pentápolis (um grupo de cinco cidades) se estendia ao longo da bem irrigada planície na porção sul do Vale do Jordão (Gn 13.10-11). Em um dos relatos mais memoráveis da Bíblia, lemos que uma destruição cataclísmica cobriu duas destas cidades — Sodoma e Gomorra (Gn 19.24-29). De acordo com a Bíblia, os habitantes eram tão ímpios (Gn 18.20; 19.1-13) que uma chuva de “fogo e enxofre” foi enviada por Deus em juízo. Como resultado, a reputação das cidades como “cidades de pecado” tornou-se um exemplo na Bíblia; os profetas e Jesus frequentemente usando a frase “como Sodoma e Gomorra” em advertências de castigo divino. A infâmia destas cidades persiste até hoje preservada em nossa palavra portuguesa sodomia.
Ceticismo dos eruditos
Para muitos eruditos da Bíblia e arqueólogos, a história de Sodoma e Gomorra é apenas isso — uma história. Os mais críticos eruditos da Bíblia, como Theodor Gaster, chamaram-na de “história puramente mítica”. Para a maioria dos eruditos críticos ela é uma “extraordinária história-origem” criada por contadores de história israelitas mais tarde para comunicar assuntos teológicos e sociais, não para preservar a memória dos lugares e acontecimentos históricos. Outros eruditos dizem que existe uma fração de historicidade dentro de um grande conteúdo de tradição literária posterior. Não é totalmente ficção, mas um “fragmento de memória local,” tomada por israelitas e ampliada pela imaginação. Assim, a história incorpora uma explicação extrabíblica pré-israelita dos que viviam na região pela degeneração de seu ambiente e perturbações militares. Algumas tentativas científicas para validar o evento histórico têm sido inconsistentes em seu tratamento da evidência bíblica e arqueológica. Num livro recente, dois geólogos argumentam que um forte terremoto (mais de 7 pontos na escala Richter) ocorreu ao longo de uma falha do vale aberto onde o mar Morto repousa hoje. Eles conjeturam que este terremoto, que incendiou “leves frações de hidrocarbono escapando dos reservatórios subterrâneos” (a “chuva de fogo e enxofre”) destruiu Sodoma, Gomorra e Jericó, e até parou o rio Jordão por vários dias. Dizem que estes acontecimentos ocorreram todos simultaneamente por volta de 2350 a.C. Com esta conclusão aglomerando os destinos bíblicos de Sodoma e Gomorra e o de Jericó (que só ocorreu mais de 900 anos depois), é óbvio que a alta consideração destes autores por geologia e climatologia não é da mesma forma estendida às Escrituras. Pelo contrário, eles disputam que estes relatos bíblicos foram o resultado de lembranças primitivas destes desastres geológicos, os quais foram mal recontados nas tradições religiosas das pessoas através dos tempos. Consequentemente, estes eventos foram ingenuamente atribuídos a Deus e erroneamente ligados a diferentes histórias dentro da historiografia israelita. A despeito de sua “abordagem científica,” os autores não oferecem evidência histórica ou arqueológica para sustentar sua teoria, e, como um revisor arqueológico observou, eles cometeram “numerosos erros discutindo sítios arqueológicos e teorias.”
Declarações da antiguidade
Os escritores que redigiram a Bíblia, em contraste, acreditavam que a narrativa era história genuína. Eles citaram-na como referência de valor histórico, pois que valor histórico uma fábula teria para convencer uma audiência da certeza do julgamento de Deus? A menção da destruição de Sodoma e Gomorra por tantos autores bíblicos para diferentes audiências testifica do reconhecimento universal do evento no antigo Oriente Próximo (veja Dt 29.23; 32.32; Is 1.9,10; 3-9; 13.19; Jr 23.14; 49.18; 50.40; Lm 4.6; Ez 16.46-49; 53-56; Am 4.11; Sf 2.9; Mt 10.15; 11.23-24; Lc 10.12; 17.29; 2 Pe 2.6; Jd 7; Ap 11.8). Além disso, antigos historiadores não bíblicos também escreveram sobre Sodoma e Gomorra de uma maneira realista. Alguns até afirmaram que evidências de sua destruição podiam ser vistas em seus dias (veja especialmente Filo, De Abrahamo l40f). É por isso que, apesar das contestações dos críticos de que o relato original foi uma invenção posterior ou uma lembrança mal aplicada, tem havido repetidos esforços por parte de alguns arqueólogos para localizar as cidades históricas de Sodoma e Gomorra.
A busca por Sodoma e Gomorra
A busca por Sodoma e Gomorra tem geralmente concentrado-se na região do mar Morto, apesar de alguns eruditos terem argumentado que por causa da suposta atividade vulcânica (o fogo e o enxofre) o sítio devia ser procurado na Arábia ou Iraque. Todavia, o texto bíblico especifica “o vale de Sidim (que é o mar Salgado)” (Gn 14.3), um conhecido nome para o mar Morto. Em 1924, o renomado arqueólogo W.F. Albright e o reverendo M. Kyle conduziram uma expedição para investigar a extremidade ao sul do mar Morto. Albright acreditava que as cidades estavam debaixo das águas ao sul da península de Lisan. Ele não tinha o equipamento que lhe possibilitaria confirmar sua teoria. Em 1960, Ralph Baney explorou o solo do mar nesta região usando um sonar e equipamento de mergulho. Ele descobriu árvores de pé em posição de crescimento numa profundidade de mais de 7 metros, provando a teoria de Albright de que as águas do mar Morto haviam levantado e submergido antigas áreas de terra, mas ele não localizou nenhum traço de estruturas antigas que pudessem ser resquícios das cidades. Como resultado, muitos eruditos que sustentavam a existência de Sodoma e Gomorra concluíram que ou a destruição fora tão completa que nenhum traço sobrevivera, ou que os resquícios estavam além de toda esperança de recuperação. Ainda assim, a maioria dos eruditos bíblicos sentia que Sodoma e Gomorra haviam se localizado em um canal sob o presente fundo do mar Morto, ou um local conhecido como Jebel Usdum, um domo de sal na costa sudoeste do mar Morto. Todavia, estas teorias foram baseadas em especulação, não em apoio arqueológico ou geológico. Durante sua busca, Albright também descobriu estruturas sobre a terra no litoral leste da Transjordânia atravessando a península de Lisan. Em um sítio conhecido em árabe como Bab edh-Dhra, ele encontrou resquícios de uma comunidade estabelecida e muitíssimo fortificada com construções muradas, um ambiente extenso ao ar livre, casas, numerosos cemitérios e artefatos espalhados — todos sinais de que uma grande população morou um dia ali. Do lado de fora das ruínas, para o leste, estava um grupo de grandes blocos de pedra caídos (colunas) medindo 4 metros de comprimento. Albright interpretou isto como parte de uma instalação para ritos religiosos. Ele datou a cidade como sendo do terceiro milênio a.C. (Idade do Bronze Antigo, 3150- 2200 a.C.), e acreditou que o sítio também havia deixado de ser ocupado dentro daquele período. Ele sentiu que havia uma conexão entre este sítio e as cidades da planície, mas porque fracassou em achar uma extensa camada de escombros, teorizou que ele só havia servido como um centro de peregrinação sagrada que era visitado anualmente.
Fonte: Livro: Arqueologia Bíblia- Autor: Randall Price, Editora: CPAD, pags. 85-89