Transportes e Comunicações nos tempos bíblicos

Viajar nos tempos bíblicos representava muito esforço e (dependendo da distância do trajeto) risco. Alguns tinham o privilégio de viajar a cavalo ou a camelo, mas a grande maioria viajava a pé mesmo. Os riscos durante as viagens eram muitos: ataques de animais selvagens tais como leões e ursos, ladrões (que eram muitos), os fortes ventos quentes que elevavam a temperatura para quase 50°C. Quando a viajem era longa o melhor que se podia fazer era levar tudo o que fosse indispensável para não ser pego de surpresa: tendas para acampar as noites, armas, estoque de água e alimento, etc. E quem tivesse melhores condições poderia até levar dinheiro a guardas consigo e pernoitar nas estalagens do trajeto. Apesar dos riscos todo o povo estava habituado as viagens por causa da obrigatoriedade de viajar a Jerusalém para as festas religiosas; mas durante estas épocas os riscos eram menores, pois, com as estradas lotadas as pessoas ajudavam-se umas as outras em suas dificuldades.

Quem viajasse a pé andaria aproximadamente 30 km ao dia, isto dependia das condições da pessoa, do tempo, etc. O que amenizava o esforço das viagens eram as centenas de milhares de quilômetros de estradas muito bem pavimentadas que já tinham sido construídas pouco antes de Cristo, tais estradas começaram a ser construídas pelo governo dos reinos mais antigos e com o passar do tempo estradas melhores eram construídas, mas foi o império romano que se tornou famoso pela construção de largas e longas estradas construídas cuidadosamente para serem duráveis e a maioria delas, estão perfeitas até hoje. Após a terraplanagem colocava-se uma camada de areia, e depois duas camadas de cimento com pedras britadas, e por fim pedras planas para o acabamento, nas laterais eram feitas muitas valetas para se prevenir a erosão com os fluxos de água.

E nos pontos por onde se formavam fortes correntes de água, eles construíam pontes, isto significa que os riscos na viagem eram amenizados mesmo durante os temporais. A rede de estradas principais construídas pelos romanos somava um total de 118.000 km, sendo que 80.000 km eram estradas principais e 38.000 estradas de importância secundária, mas muitas outras já haviam sido construídas antes. A Via Ápia que liga Roma a Cápua era conhecida como a rainha das estradas, ela foi feita 300 anos antes de Cristo e está bem conservada até nossos dias. A sua construção se deu durante o reinado de diversos imperadores, ela tem 6 m de largura e 580 km de extensão. Alguns caminhos que na verdade eram trilhas também eram chamados de estradas, eram muito usados e poderiam cobrir um longo trajeto, mas em mau tempo de tornavam intransitáveis.

Tais estradas, ao passo que facilitavam a vida de todos era uma faca de dois gumes no sentido espiritual em todas as épocas: No AT elas facilitavam as peregrinações até Jerusalém para as festas religiosas, mas também traziam a influencia religiosa e social de outros povos para dentro do povo israelita, e os mais fracos de mente e menos convictos de sua fé se deixavam seduzir, e isto ia implantando aos poucos dentro do povo de Israel novos costumes. No NT ao passo que os cristãos as utilizavam para viajarem e pregarem as boas novas de Cristo, os hereges e perseguidores também, e eles eram muitos, desde o livro de Atos até nossos dias, a igreja tem procurado combater os que trazem ideias contrárias ao cristianismo. Mas a obra de Deus não pode ser impedida, e os cristãos chegaram a ser acusados de alvoroçarem o mundo Atos 17:6.

Em Números 20:17 podemos ler que Moises (3700 a.C) pedia passagem para os edomitas para de deslocar com o seu povo através da estrada real, ela ia de Damasco até o golfo de Acaba. A Via Maris era outra estrada que sai de Megido e seguindo a costa do mar mediterrâneo ai até o Egito. A estrada de Jericó a Jerusalém, foi a estrada mencionada na parábola do bom samaritano, era pequena e irregular e abrigava muitos ladrões, o império romano tinha de colocar nela muitos soldados ao longo de seu trajeto, ela também tinha o apelido de estrada sangrenta e tinha 25 km de extensão. De Jerusalém ao mar da Galiléia temos 130 km e Jesus fez este trajeto.

Rotas marítimas

Sendo estes estudos dedicados aos contextos bíblicos, tratemos de falar sobre a navegação dentro do mar mediterrâneo, pois foi lá o cenário onde aconteceram todos os fatos bíblicos relacionados à navegação. As viagens de navios eram muito comuns naquela época, mas comumente somente navios cargueiros eram construídos, por isto as pessoas somente conseguiam embarcar se houvesse espaço, ou interesse da parte do comandante. O navio de Alexandria (egípcio) onde Paulo estava preso em Atos 27:6, talvez tivesse sido confiscado pelo centurião para transportar presos, já que eram muitos (Atos 27:42), mas é possível também que o transporte dos presos tenha sido exigido pelo centurião; este navio alexandrino não devia ser pequeno, pois transportava 266 pessoas; o passageiro que embarcasse deveria cuidar de suas próprias necessidades, não havia serviço de bordo.

É obvio que havia navios cujos objetivos eram o transporte de passageiros, mas eram somente para transportar pessoas de alta patente do governo, o que nos faz crer também que muitos ricos poderiam ter seus navios particulares, naquela época alguém que fosse rico teria seus negócios centrados em uma região, mas seu dinheiro poderia estar investido em outros países. As tempestades eram a maior ameaça aos navios, temos até em Atos 27:14 em diante, a narrativa de uma destas tempestades causada pelo vento Euroaquilão; aliás, quem vê no mapa o mar Mediterrâneo tão pequeno não acredita que lá possam haver tempestades tão fortes – Atos 27:20, 27. Dependendo da direção para onde se fosse viajar, esperava-se o vento certo em aquela direção (Atos 27:13), se naquela época este vento fosse comum, caso contrario não ficariam parado esperando por algo improvável; os navios também eram movidos a remos, geralmente eram de 40 a 50 remadores, que impulsionavam o navio quando não tinha vento, ou contra o vento desde que fosse fraco, uma tempestade arrasta até nossos navios modernos com 2 motores de 100.000 cavalos!

O verão era uma época de calmaria e o inverno era de tempestades continuas, mas mesmo nas duas épocas poderiam ser surpreendidos por tempestades, que vindo repentinamente, poderia até causar um naufrágio, o que, aliás, era comum. Os piratas, já haviam sido dizimados pelas embarcações romanas, o governo romano levava a sério sua ideia de paz em seu território; a época de Jesus foi chamada de “Pax Romana”, os piratas não eram mais ameaça, eles eram perseguidos e mortos. Como os israelitas não se sentiam atraídos para o mar, porque isto os iria distanciar de suas famílias, eles não se incomodavam em despachar suas exportações em navios estrangeiros.

Se a viagem fosse de oeste para leste poderia ser rápida, mas se na direção contrária poderia demorar até dez vezes mais. Devido à importância da navegação comercial alguns portos eram abertos, havia um grande interesse em qualquer região por possuir um porto, pois eles traziam grande progresso a cidade, por isto bons e grandes portos foram construídos, e alguns até fortificados e policiados pela guarda romana. Os marinheiros gentios criam na proteção dos deuses romanos, os irmãos chamados: Castor e Polux alguns os consideravam gêmeos; a imagem deles era geralmente esculpida em barcos, mas em Atos 28:11 vemos um navio alexandrino que os tinha por nome.

Transporte em animais.

Muitos animais eram usados no transporte de cargas arrastando carroças ou carregando a carga em seus lombos. O camelo era também conhecido como o navio do deserto, poderia percorrer um trajeto de 40 km carregando 500 kg’s, era um animal dócil, somente tinha a desvantagem de empacar. O jumento era mais comum e barato, era fácil de cuidar e resistente, poderia carregar até uns 150 kg. O cavalo não era usado muito para carga, mas para fins militares, pois era muito forte e ágil. Os elefantes eram usados de diversos modos, para arrastar cargas pesadas, como tanques de guerra, etc. Mas eram muito incomuns na paisagem de Israel, ou talvez nem existissem.

Talvez eles fossem usados em Israel para transporte de grandes volumes de materiais, tais como os da construção do templo de Salomão, pois um elefante poderia carregar em seu lombo duas toneladas por um longo trajeto, então deveria puxar muito mais que isto sobre rodas. As grandes construções eram sempre comuns. Grandes quantidades de carga iam aos portos para serem embarcadas ou vinham deles, por isso eram comuns às caravanas de cargas, sempre policiadas.

Guias turísticos

O leitor destes estudos por vezes fica surpreso com a quantidade de informações que aproxima os tempos bíblicos dos nossos, existia até o guia turístico, na forma de mapas, com informações sobre as atrações de cada cidade e região, hospedarias, comidas típicas da região, serviços, etc. Não existia somente na palestina, mas até fora do império romano em todos os países: China, Escandinávia, África, etc. Tudo isto porque as pessoas adoravam viajar, qualquer coisa era desculpa para uma viagem, que sendo bem planejada e usando rotas policiadas não tinham nenhum imprevisto. Motivos para viagens mais comuns: Peregrinações, visitar parentes, competições esportivas, estudos, tratamento médico, negócios e investimentos, etc.

As hospedarias

Havia muitas espécies de hospedarias naqueles tempos, havia até as indecentes onde tinham prostitutas a serviço dos clientes, era muito comum. Muitas delas tinham muitos serviços, tais como alimentação, banhos, cama, currais para pastores, etc. Mas outras hospedarias poderiam ser lugares ruins e covil de ladrões, exatamente o que se chama de “boca do lixo” hoje em dia, e quem se hospedasse nestes locais poderia ser assaltado e morrer lá mesmo. E havia também as familiares, com até mesmo com guardas. Daí uma das importâncias dos guias turísticos, eles informavam isto também.

Fonte: Apostila Panorama Bíblico Universalidade da Bíblia

Pags: 75-79


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