Desde a descoberta dos textos mesopotâmicos, questões têm sido levantadas a respeito da origem destas histórias que são semelhantes àquelas encontradas na Bíblia. Três possíveis respostas têm sido oferecidas pelos eruditos: 1) Elas foram relatos israelitas originalmente, que foram tomados como empréstimo e adaptados à religião e cultura mesopotâmicas; 2) Elas foram originalmente histórias mesopotâmicas, que foram tomadas como empréstimo pelos israelitas para atender aos seus propósitos religiosos; 3) tanto os relatos mesopotâmicos como os israelitas (bíblicos) vieram de uma fonte antiga em comum. Concernente à primeira opção, até onde se sabe, os relatos bíblicos não foram escritos até o tempo de Moisés no século XV a.C. Parece improvável, então, que as histórias mesopotâmicas mais velhas (século XVII a XVIII a.C.) fossem derivadas do relato israelita.
Quanto à segunda opção, é possível que Moisés tenha usado fontes para compilar seus relatos no Gênesis (veja Gn 14). Mais ainda, é possível que os escritores bíblicos tenham tido acesso ao Épico de Gilgamés, como um fragmento do épico descoberto durante as escavações de 1956 em Megido, Israel. Isso significa que tenha ocorrido uma dependência literária dos textos mesopotâmicos para compilar os relatos bíblicos? O uso de fontes extrabíblicas não é conflitante com a doutrina da inspiração, uma vez que há numerosos exemplos nos quais obras não-canônicas são citadas tanto no Antigo como no Novo Testamentos (veja Js 10.13; 1 Sm 24.13; 2 Sm 1.18; Lc 4.23; At 17.28; Tt 1.2; Jd 14). Todavia, nem a posse e nem o uso ocasional de textos extrabíblicos pelos escritores bíblicos estabelecem que tenha ocorrido uma dependência literária deles. Os escritores bíblicos continuamente enfatizam que sua fonte primária era a revelação divina.
Fontes secundárias podem ter sido usadas em algumas ocasiões, mas não parece que elas foram usadas em referência à criação ou ao dilúvio. As muitas diferenças significativas e omissões entre os relatos podem tornar improvável que tanto os autores mesopotâmicos como os bíblicos têm tomado emprestado um do outro. Mas poderia ter acontecido uma “dependência da tradição?” Isto é, poderiam os relatos bíblicos simplesmente ser variações de mitos mesopotâmicos? Mais uma vez, é improvável. Uma das razões é que a orientação bíblica é monoteísta (um só Deus) e seus personagens são eticamente morais. Em contrapartida, a orientação mesopotâmica é politeísta (muitos deuses) e seus personagens são eticamente volúveis.
Este contraste é evidente, por exemplo, no sentido de que os dois textos tratam do relato do mundo pós-diluviano. No texto bíblico, Deus aceita o sacrifício de Noé e promete não destruir de novo a terra por um dilúvio (Gn 8.20-22). No Épico de Atrahasis, os deuses descobrem, para sua tristeza, que eles haviam varrido sua única fonte de alimentos (os sacrifícios dos homens). Porque estão com fome, eles decidem tolerar a humanidade (que pode alimentá-los). Outra razão é que importantes detalhes nos relatos diferem (como o tamanho do barco, a duração do dilúvio, o envio de pássaros, e assim por diante). A.R. Millard, que foi co-autor de um livro sobre o Épico de Atrahasis, resume a questão do alegado empréstimo quando diz:
Todos os que suspeitam ou sugerem o empréstimo feito pelos hebreus são compelidos a admitir uma revisão de grande escala, alteração e reinterpretação de um modo que não pode ser substanciado por nenhuma outra composição do antigo Oriente Próximo ou em qualquer outro escrito hebreu… Assumindo que o dilúvio aconteceu, o conhecimento dele deve ter sobrevivido para formar os relatos disponíveis; enquanto os babilônios só podiam conceber o evento em sua linguagem politeísta, os hebreus, ou seus ancestrais, entenderam a ação de Deus nele. Quem pode dizer que não foi assim?
De fato, pistas literárias nestas composições mesopotâmicas implicam a antiguidade do relato de Gênesis. Eruditos têm há muito tempo reconhecido que Gênesis 2.1-4 é um colofão ou apêndice para a primeira narrativa da criação em Gênesis 1. Os tabletes antigos que contêm um relato da criação também têm um colofão. Uma comparação dos dois revela que a organização do material no colofão de Gênesis concorda com a informação dada nos antigos colofões: 1) título (“os céus e a terra”, Gn 2.1a,4a); 2) data (“no dia em que o Senhor fez os céus e a terra,” Gn 2.46); 3) número em série (“seis dias” = série de 6 tabletes); 4) Se foi ou não completo em séries (“sétimo dia [=de- pois do sexto tablete]… completados,” Gn 2.1 b-2); 5) nome do escriba ou dono (“o Senhor Deus,” Gn 2.4b).
Portanto, parece mais provável que tanto o relato mesopotâmico como o israelita refletem um conhecimento universalmente preservado de eventos que ocorreram durante a história pré-diluviana da terra. As variações nestas histórias foram passadas por diferentes culturas semíticas que desenvolveram-se após a divisão das nações no pós-diluviano Oriente Próximo (veja Gn 10—11).
Heranças deixadas da antiguidade
São relíquias arqueológicas como a Pedra Roseta e o Rochedo de Behistun que nos têm ensinado como ler o passado e considerar a Bíblia com um grande senso de historicidade e singularidade. Todavia, estas são apenas parte de uma grande herança da antiguidade deixada para nós.
Arqueologia- Livro: Arqueologia Bíblia-
Autor: Randall Price,
Editora: CPAD
Pags: 54-56
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