Ascensão do Senhor: Uma celebração esquecida, uma missão permanente

No calendário litúrgico cristão, o dia 29 de maio carrega um peso celestial que, infelizmente, tem sido ignorado por muitos aqui na terra: a Ascensão do Senhor Jesus Cristo. Por séculos, essa foi uma data de celebração, reverência e expectativa viva da Igreja. Hoje, no entanto, passa despercebida por boa parte do mundo moderno — sem feriados, vitrines decoradas ou menções nos jornais. Por quê? Porque a Ascensão não vende. E, numa cultura moldada pelo consumo, o que não movimenta o mercado, tende a ser esquecido.

O mundo parece ter esquecido a Ascensão porque também se esqueceu do que significa ter um Rei. Quando o foco se desloca do trono de Deus para os tronos do consumo, o eterno se torna irrelevante. No entanto, como povo de Deus, somos chamados a redescobrir e proclamar verdades eternas — especialmente aquelas que o mundo deixou de lado.

Natal e páscoa: Celebrações que precisam ser redescobertas

O Natal e a Páscoa são, sem dúvida, duas das celebrações mais importantes da fé cristã. O Natal celebra a Encarnação do Verbo — o momento em que o Deus eterno entra na história humana para nos resgatar. A Páscoa, por sua vez, marca o triunfo da vida sobre a morte, a vitória da cruz e da ressurreição de Cristo que garantiu nossa salvação. Se Cristo não tivesse nascido, não teria morrido por nós. Se Ele não tivesse ressuscitado, nossa fé seria vã.

Essas datas são pilares da doutrina cristã e devem ser celebradas com reverência, alegria e consciência espiritual. No entanto, é justamente por serem tão significativas que o inimigo tenta dissolver seu poder, esvaziando o conteúdo espiritual por meio da distração cultural e comercial.

O Natal, que antes era celebrado com cânticos, cultos especiais e reuniões familiares centradas em Jesus, hoje é dominado pelo consumo desenfreado. Já em outubro, os anúncios tomam conta da mídia. A figura do Menino Deus é substituída por enfeites, luzes e listas de presentes. Uma festa criada para glorificar a encarnação do Salvador é transformada em um espetáculo publicitário.

Na Sexta-feira da Paixão, que deveria nos levar à meditação profunda sobre o sacrifício do Cordeiro de Deus, muitos se ocupam com tradições populares como a “malhação do Judas” ou com os pratos especiais do dia. A cruz dá lugar ao cardápio. Pouco se fala sobre o sangue derramado, o amor incondicional, o perdão proclamado do alto da cruz.

E então chega a Páscoa — símbolo da nossa esperança eterna — e o foco se torna o chocolate em forma de ovo. Muitos sequer sabem o que realmente estão celebrando. O preço da guloseima sobe, mas a consciência espiritual se apaga. A mente se ocupa tanto com comida e bebida, que a reflexão sobre o significado da ressurreição de Cristo passa batida.

Isso não significa que não devemos comemorar. Devemos, sim. Mas precisamos redescobrir o propósito espiritual por trás de cada data. Celebrar com consciência. Reunir-se com a família, sim — mas com Cristo no centro. Compartilhar presentes, sim — mas sem esquecer do maior presente de todos: a salvação em Jesus.

Essas datas, mesmo diluídas, ainda ecoam algo da fé cristã. Mas quando se trata da Ascensão, o silêncio é quase absoluto.

O que realmente aconteceu na ascensão?

Durante quarenta dias após a ressurreição, Jesus apareceu ressuscitado aos seus discípulos. Em uma dessas ocasiões, mais de quinhentas pessoas o viram simultaneamente. Muitos esperavam que Ele restaurasse ali mesmo o Reino de Israel, então dominado pelo império romano. Mas Jesus não veio para estabelecer um reino político; Ele preparava um Reino eterno.

No monte das Oliveiras, Ele subiu aos céus diante dos discípulos (Atos 1:9-11).

Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos.
E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles
e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus, que dentre vós foi assunto ao céu, virá do modo como o vistes subir.

Essa não foi uma despedida simbólica, mas a coroação do Filho de Deus. A Ascensão é a coroa da cruz: Cristo não apenas ressuscitou para nossa justificação — Ele reina para nossa esperança. Não foi o encerramento de uma missão, mas a inauguração do governo invisível do Reino de Deus sobre toda a criação.

Antes de subir, Ele prometeu enviar o Espírito Santo e nos confiou a missão de continuar Sua obra: fazer discípulos, batizar, ensinar e ser testemunhas até os confins da terra.

A importância teológica da ascensão

A Ascensão de Jesus é um eixo central da fé cristã. Ela confirma, em primeiro lugar, Sua divindade. Ele não era apenas um mestre ou profeta. Sua subida ao céu, visível aos olhos humanos, sela a verdade de que Ele é o Filho eterno, glorificado pelo Pai. Como ensina o apóstolo Paulo, Ele agora está assentado à direita de Deus, intercedendo por nós.

“Cristo Jesus é quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.”
(Romanos 8:34)

Em segundo lugar, a Ascensão inaugura o ministério do Espírito Santo. Cristo subiu, mas o poder desceu. O mesmo Espírito que ungiu Jesus agora unge seus discípulos para continuar o que Ele começou.

“Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas.”
(Atos 1:8)

A Ascensão também estabelece a missão da Igreja. O “ide” de Jesus não é uma sugestão pastoral, mas uma ordem real, fundamentada em Sua autoridade celestial e terrena.

“Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, e fazei discípulos.”
(Mateus 28:18-19)

Por fim, ela aponta para nossa glorificação futura. Cristo subiu como primícias, e nós, que cremos, seguiremos Seus passos. A Ascensão é uma promessa: onde Ele está, nós também estaremos.

Uma missão que ainda está de pé

Enquanto o mundo esquece a Ascensão, o céu continua celebrando. A Igreja também não pode silenciar. O Cristo exaltado confiou a nós a continuidade do Seu Reino. Ele subiu, mas não nos deixou. A Ascensão nos lembra que Sua presença agora habita em nós pelo Espírito, e nos empurra para o campo. Quem viu o Cristo exaltado não consegue mais viver uma fé passiva.

O mesmo Jesus que subiu ao céu voltará. Até lá, corra a carreira que te está proposta com os olhos firmes n’Ele. Ele reina agora, e virá em glória. A nossa fé é viva, nossa esperança é eterna, e nossa missão é urgente.

“Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.”
(Atos 1:11)

📖 Leitura recomendada: Atos 1:1–11

Reflita: o que você tem feito com o chamado que Jesus te deixou antes de subir aos céus?

Feliz Dia da Ascensão do Senhor!
Que você viva cada dia com os olhos no céu, mas os pés firmes na missão.