Muitas pessoas hoje acreditam que neste momento nosso conhecimento da história é completo. Elas aceitam que alguns detalhes ainda estão faltando, mas supõem que saibamos quase tudo o que há para saber sobre as grandes civilizações que governaram o passado. A impressionante cobertura que encontramos nos livros de história e nos canais históricos parecem confirmar isso. Contudo, os historiadores admitirão que nosso presente conhecimento do passado ainda é sensivelmente limitado. O que realmente sabemos apresenta lacunas enormes e revisões inesperadas. Isso também tem sido verdade com respeito a história da Bíblia. Apesar de a Escritura apresentar informação histórica, esta informação é seletiva e incompleta. Isso se encaixa com o propósito teológico da Bíblia, pois ela não foi escrita para ser um livro de história.
Por esta razão, os historiadores têm muitas vezes duvidado de certos fatos históricos da Bíblia. Isso não é só porque eles suspeitam que uma visão religiosa da história possa alterar os fatos, mas porque alguns detalhes históricos na Bíblia não têm evidência material para sustentá-los. Todavia, surpresas arqueológicas têm agora e antes revelado personagens e lugares históricos conhecidos na Bíblia ainda que desconhecidos em qualquer outra fonte. Tais descobertas não apenas nos dão uma nova perspectiva sobre o que já sabíamos, mas também serve para afirmar a integridade histórica das narrativas bíblicas. As vezes, também, as escavações trazem novos fatos à tona, nunca conhecidos antes, que lançam luz tanto sobre a Bíblia como sobre a história antiga. Existem duas escavações arqueológicas que fizeram exatamente isso, aumentando nossa apreciação pela exatidão da Bíblia enquanto forçavam os historiadores a rescreverem alguns capítulos de seus livros. Estas escavações confirmaram a existência dos heteus e do império de Ebla.
Os heteus — Prova de um povo do passado
A Bíblia, por 47 vezes, faz menção de um povo chamado “os heteus”. Eles foram listados entre as nações que habitavam a antiga Canaã quando Abraão entrou na terra (Gn 15.20). Eles foram considerados significativos o suficiente para comprar carros e cavalos do rei Salomão (1 Rs 10.29). E mantiveram um exército tão poderoso que o rei de Israel alugou-os para lutar e expulsar o formidável exército dos arameus (2 Rs 7.6,7). Dois heteus, particularmente, ganharam notoriedade no relato bíblico. Um foi Efron, o heteu, que vendeu para Abraão o seu campo e sua caverna em Macpela, em Quiriate- Arba (Hebrom) para enterrar sua mulher Sara (Gn 23.10-20). Desde então ficou conhecida como a Tumba dos Patriarcas. O outro foi Urias, o heteu, um soldado no exército do rei Davi.
Apesar de ser estrangeiro, Urias é retratado nas Escrituras como um servo leal, em contraste com o próprio filho de Israel, o rei Davi. O livro de 2 Samuel conta como Davi teve um relacionamento adúltero com a mulher de Urias, Bate-Seba. O pecado do rei foi completado quando Bate-Seba foi achada grávida e ele expôs Urias à morte para cobrir seu crime (2 Sm 11). E mais tarde, quando o profeta Ezequiel denunciou a pecaminosa Jerusalém, Deus declarou que a mãe virtuosa de Jerusalém era uma hetéia (Ez 16.3). Todavia, a despeito da proeminência dos heteus no texto bíblico, há apenas 100 anos os críticos eruditos duvidavam de que eles jamais tivessem existido. Àquela altura, nenhuma evidência de tal povo havia sido encontrada. Eles eram simplesmente parte da história religiosa da Bíblia.
No entanto, este veredicto histórico estava para mudar. Em 1876, o erudito britânico A.H. Sayce suspeitou que uma inscrição não decifrada descoberta esculpida nas rochas da Turquia e Síria pudessem ser uma evidência dos até então desconhecidos heteus. Então tabletes de argila foram descobertos nas ruínas de uma cidade antiga na Turquia, chamada Boghaz-Keui. O povo local estava vendendo estes tabletes e alguns caíram nas mãos de peritos. Isso permitiu que um perito alemão em texto cuneiforme, Hugo Winckler, fosse ao sítio e escavasse. Ali, ele descobriu cinco templos, uma cidadela fortificada e muitas esculturas monumentais. Em um armazém incendiado ele também encontrou mais de 10 mil tabletes.
Logo que eles foram finalmente decifrados, foi anunciado ao mundo que os heteus haviam sido encontrados! Boghaz-Keui havia sido de fato a antiga capital do império heteu (conhecida com Hattusha). Outras surpresas se seguiram, tal como a revelação de que a língua hetéia devia estar associada com as línguas indo-européias (das quais o inglês é uma parte), e que a forma de seus códigos de lei eram muito úteis para a compreensão daqueles descritos na Bíblia. A redescoberta deste povo perdido, uma das mais extraordinárias realizações da arqueologia do Oriente Próximo, agora serve como um aviso para aqueles que duvidam da historicidade de certos relatos bíblicos. Só porque a arqueologia não produziu evidência corroborativa hoje não significa que não possa produzi- la amanhã. Os heteus são simplesmente um exemplo de que a Bíblia tem se demonstrado historicamente confiável. Portanto, isso deve ser respeitado apesar da presente falta de apoio material para certos eventos ou problemas cronológicos que permanecem sem solução.
Ebla — Uma civilização descoberta
Antes de 1968, os eruditos sabiam através de seus estudos de textos da antiga Mesopotâmia que houve uma vez um império sírio chamado Ebla. Os antigos reis babilônios haviam alegado ter conquistado este vasto reino em torno de 2300 a.C., mas ninguém sabia onde ele se localizava. Então, um dia, em 1968, uma inscrição foi encontrada numa proeminente tel na Síria conhecida como Tel Mardique; esta inscrição parecia identificar o sítio como Ebla. Mas a maior descoberta ainda estava por vir. Em 1975, enquanto os arqueólogos estavam escavando sob o templo da cidade, eles encontraram uma pequena sala que havia servido como um arquivo real.
Lá, cerca de 17 mil tabletes repousavam em pilhas! As prateleiras que haviam-nos sustentado haviam sido destruídas muito tempo antes num incêndio, mas este mesmo incêndio havia assado os tabletes de argila, endurecendo e conservando-os contra depreciação do tempo. Estes tabletes confirmaram o nome do lugar como Ebla e apresentaram aos eruditos a língua do império anteriormente desconhecida — eblaite. A decifração de alguns destes textos revelou que Ebla tinha sido um império florescente 4.500 anos antes, séculos antes do tempo dos patriarcas bíblicos. Seus cidadãos haviam comercializado por eras com Mari, outra cidade antiga da Síria que tinha leis e costumes que ajudaram a esclarecer outros semelhantes associados com os patriarcas bíblicos.
O volume total de tabletes recuperados em Ebla (quatro vezes maior do que a soma de todos os textos precedentes deste período), tornou a descoberta imensamente importante para aqueles envolvidos em estudos do Oriente Próximo. Mas qual seria a importância destes tabletes para estudos bíblicos? Logo no início, durante a interpretação destes textos, disputas políticas entre a Síria e Israel podem ter forçado a retração das conexões que um tradutor havia feito com a história israelita. Mesmo assim, parece que muitas das alegações iniciais quanto à similaridade dos nomes bíblicos, à aparência de nomes de lugares bíblicos (como Sodoma e Gomorra), e afinidades com a língua hebraica foram considerações prematuras.
O verdadeiro significado de Ebla, para a Bíblia, pode ser o de comparar o texto eblaite com o estilo poético hebraico e saber sobre os antecedentes das tradições e religiões de um povo que pode ter influenciado civilizações subsequentes, incluindo o Israel antigo. Foi somente deste modo que os textos de Ugarite ajudaram os eruditos a entender a poesia bíblica e responder perguntas sobre o significado das palavras do hebraico e gramática bíblicos. Qualquer que seja o caso, Ebla escreveu um novo capítulo na História do Oriente Próximo durante o terceiro milênio a.C.
Arqueologia- Livro: Arqueologia Bíblia-
Autor: Randall Price,
Editora: CPAD
Pags: 64 – 68