No jardim do Éden, a serpente disse a Eva que, se ela e Adão comessem do fruto proibido, seriam “como Deus” (Gn 3.5). Depois, em Gênesis 3.22, diz o Senhor: “Agora o homem se tornou como um de nós”. Será que “um de nós” implica a existência de mais de um Deus? De modo algum! O termo usual hebraico traduzido por “Deus” é elōhîm, que é o plural de elōah. Às vezes, é empregado como verdadeiro plural, com referência aos deuses imaginários dos pagãos. Mas geralmente se refere ao verdadeiro e único Deus; a terminação plural é conhecida entre os gramáticos do hebraico como “plural majestático”.
À semelhança de adōnîm (“senhores” ou “Senhor”) e beālîm (plural de ba‘al, “senhor”, “amo”, “dono”, “marido”), elōhîm também pode ser usado para conferir expressão elevada à majestade de Deus. Assim, esse plural é acompanhado por adjetivos no singular e pede verbo no singular. (Refere-se também ao Deus trino e uno.) No caso da serpente, que serviu de porta-voz de Satanás, ela usou primeiro elōhîm (3.1, 5a) e inquestionavelmente tencionava uma designação de um único e verdadeiro Deus; daí ser muito provável que Satanás usasse o nome do Senhor dessa forma. Portanto, a tradução adequada de 3.5b deveria ser: “Como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (como aparece na ASV, na NASB, e até na Bíblia de Lutero).
A oração na última parte funciona como qualificativo, i.e., “vocês serão como Deus, uma vez que terão conhecimento pessoal da lei moral e a distinção que ela faz entre o bem e o mal”. Adão e Eva não mais se encontrariam em estado de inocência, mas teriam uma experiência culposa do mal, de forma que, nesse ponto, estariam mais perto de Deus e de seus anjos no que concerne à inteira consciência moral. A quem se refere, então, o pronome “nós”, no versículo 22? É concebível que as três pessoas da Trindade estejam em evidência aqui (como em Gn 1.26), mas é também provável que esse “nós” se refira aos anjos que rodeiam o trono de Deus nos céus (cf. 1 Rs 22.19; Is 6.1-3 etc).
Em algumas passagens no AT, os anjos são mencionados como benê ’elōhîm (“filhos de Deus”, e.g., Jó 1.6; 2.1; 38.6; cf. benê ēlîm — forma abreviada de elōhîm, Sl 29.1; 89.6). Em alguns casos, assim como benê Yiśrā’ēl (“filhos de Israel”) é abreviado para Yiśrā’ēl apenas (referindo-se à nação de Israel, em vez de a Jacó), assim também benê elōhîm (“filhos de Deus”, no sentido de anjos) é abreviado para elōhîm, como em Salmos 97.7. É certo que os anjos dos céus adquiriram algum conhecimento do bem e do mal.
Antes da aurora da história humana, aparentemente houve uma revolta contra Deus, sob a liderança de Satanás, ou “Lúcifer” (v. Is 14.12-15, em que a referência a Lúcifer é feita ao rei de Babilônia). Provavelmente é a isso que se refere 2 Pedro 2.4: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo”. Portanto, os anjos que permaneceram fiéis ao Senhor eram membros da corte celestial, tendo passado pelos testes de fidelidade e obediência em face da tentação.
Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos
Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia
Gleason Archer
Editora : Vida – pgs: 66
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