Enquanto estas palavras estão sendo escritas é Páscoa novamente na terra. Por todo o mundo, judeus (e muitos cristãos, veja 1 Coríntios 5.7-8) estão celebrando a redenção da escravidão no Egito. Numa cerimônia que a comunidade judaica tem celebrado em sucessão inquebrável por quase 3.500 anos, a Páscoa comemora o evento que foi o marco do início da nação judaica — o êxodo. É curioso, então, que mesmo sendo mantida a Seder (a refeição tradicional) e lida a Hagaddah (a história recontada), alguns eruditos judeus e cristãos acreditem que o êxodo nunca aconteceu! Por exemplo, o Rabi Sherwin Wine, fundador do judaísmo humanista, tem discutido que o êxodo tenha sido “criado por sacerdotes escribas em Jerusalém” que usaram “uma série de velhas lendas e distorceram lembranças que não tinham nenhuma relação com história.”
Os eruditos em Antigo Testamento N.P. Lemche e G.W. Ahlstrom consideram o êxodo uma “ficção” e “preocupado com mitologia ao invés do relato de fatos históricos.” Anos atrás, o erudito judeu Hugh Schonfield escreveu um livro chamado The Passover Plot (A Conspiração da Páscoa), no qual ele concluiu erroneamente que Jesus havia encenado sua morte e ressurreição. Mas se a visão destes eruditos concernente ao êxodo estiver correta, então aquela terá sido a primeira conspiração da Páscoa!
A arqueologia explica um texto difícil
A narrativa bíblica das dez pragas é uma das mais memoráveis e fundamentais partes da história do êxodo. Quem não se lembra do rio que virou sangue, as hordas de gafanhotos, e o meu favorito pessoal quando criança — as pilhas de rãs! Será que esta é somente uma história supersticiosa ou houve um ambiente histórico para estas pragas incomuns? Olhando através de lentes arqueológicas para a religião do Egito, podemos entender as pragas como uma polêmica divina (ataque) contra os deuses fabricados dos egípcios (na tumba de Séti eu fotografei pelo menos 74). Associações entre pragas individuais e deuses específicos cujo controle dos elementos foram disputados ou destruídos por pragas podem ser feitas com base em nossas informações sobre estas deidades nos registros arqueológicos.
Todavia, há um incidente registrado na Bíblia que corre através de toda a narrativa das pragas — o relato do endurecimento do coração de Faraó. A despeito da discussão sobre quem primeiro endureceu o coração de Faraó, se Deus ou ele próprio, a razão para o ato tem geralmente cativado os comentaristas bíblicos. Porém, se compreendermos que este também é um ato polêmico, como as pragas que o acompanharam, então podemos procurar por pistas no registro arqueológico egípcio assim como para seu possível significado.
Os antecedentes egípcios
A visão egípcia do poder de Faraó
O que descobrimos é que Faraó era considerado como a encarnação do deus sol Rá e Horus-Osíris, os deuses mais importantes do Egito. Assim, ele era visto como o principal deus do mundo. O mundo de Faraó era visto como “uma força criadora,” o mundo de um deus, que controlava a história assim como os elementos naturais e não podia ser revertido ou dominado por qualquer outra vontade. Portanto, ao fazer a vontade de Faraó dobrar-se diante da vontade divina, Deus demonstrou seu poder soberano sobre o que incorporava o poder do panteão egípcio na teologia do Egito.
O endurecimento do coração de Faraó
Descobertas egípcias nos proporcionam uma fascinante explicação sobre como Deus pode ter decidido “endurecer” o coração de Faraó. Na teologia do antigo culto egípcio à morte, conforme descrito no egípcio “Livro dos Mortos,” depois da morte, o falecido embalsamado e colocado na tumba tinha que enfrentar um julgamento na Sala do Julgamento para determinar sua culpa ou inocência. Se julgado culpado seu destino era a destruição; se inocente, então a vida eterna com suas recompensas. Para passar por este julgamento, o morto tinha que negar uma longa lista de pecados que era lida contra ele e com êxito declarar que era puro. Este ato era chamado de “Confissão Negativa,”e enquanto estava sendo conduzido, o coração do falecido (descrito num canopo) estava sendo pesado em escalas de julgamento contra o padrão da verdade (representado pelo símbolo dos hieróglifos para pena).
Este julgamento é vividamente representado num mural pintado conhecido como “a pesagem do coração.” Contra o testemunho do falecido, seu coração confessaria a verdade, mostrando que sua Confissão Negativa era uma mentira. O coração, portanto, subiria as escalas em favor do julgamento que resultaria em destruição. Uma vez que todos os homens pecam e que a inclinação do coração é confessar este pecado, os engenhosos egípcios desenvolveram um meio de evitar que o coração contradissesse a Confissão Negativa. Eles fizeram isso escrevendo encantamentos sobre uma imagem de pedra de seus escaravelhos sagrados que eram entalhados na forma de um coração. Este coração em forma de escaravelho de pedra era então colocado dentro ou em cima da cavidade do peito durante a mumificação (um fato revelado por raios-X de múmias egípcias).
Vários encantamentos que ordenavam ao coração: “não se rebele contra mim” ou “não testemunhe contra mim” transferiam o caráter do coração de pedra para o coração de carne no pós-túmulo, tornando-o “duro” e incapaz de falar. Este ritual de “endurecimento do coração” revertia a função natural do coração flexível e resultava na salvação, desde que o falecido fosse agora declarado sem pecado através do silêncio. Todavia, quando Deus “endureceu” o coração de Faraó, que como um deus em si mesmo representava a salvação do Egito, Ele reverteu a esperança teológica de todos os egípcios. Este endurecimento resultou na incapacidade de Faraó naturalmente responder às assustadoras pragas, e assim pará-las, rendendo-se à solicitação de Moisés.
Portanto, ao invés de o “endurecimento do coração” trazer salvação, ele trouxe destruição. Assim, a arqueologia proveu nova perspectiva de um conceito teológico difícil dando-nos o cenário apropriado e o esquema das crenças egípcias que, através de Moisés, Deus queria confrontar. Além disso, ao revelar a precisão dos detalhes no relato bíblico, ela indica sua historicidade. Contudo, encontrar antecedentes históricos para a narrativa do êxodo não necessariamente significa que ele se constitui a história verdadeira. Portanto, precisamos agora voltar para a difícil questão da historicidade do êxodo.
Leia sobre a Historicidade do Êxodo acessando o link abaixo.
Fonte: Livro: Arqueologia Bíblia
Autor: Randall Price,
Pags: 99-102
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