Não ameis o mundo

João agora se volta de uma descrição da igreja para uma descrição do mundo e instruções sobre a atitude da igreja para com o mundo. Ao fazê-lo, ele muda de afirmações sobre a posição dos cristãos para exortações sobre o comportamento deles. O tempo verbal característico deste parágrafo não é o perfeito do indicativo, mas o presente do imperativo: não ameis o mundo. O povo cristão entrou numa grande herança com o perdão de pecados, a comunhão de Deus e a vitória sobre o maligno, mas as suas tentações não chegaram ao fim. Que é o mundo? João aqui o menciona pela primeira vez, mas depois se refere a ele muitas vezes. O seu ensino sobre ele na epístola, suplementado pelo ensino do Senhor sobre este assunto, registrado no quarto evangelho, é apresentado resumidamente numa nota adicional.

É suficiente dizer aqui que às vezes significa simplesmente “o universo” (Jo 1:10) ou “vida na terra” (3:17; 4:17), mas normalmente ele se refere à “vida da sociedade humana como organizada sob o poder do mal” (Dodd), “a ordem do ser finito considerada à parte de Deus” (Westcott). Nestes versículos, em que o mundo é mencionado seis vezes, a sequência do pensamento é clara. O mandamento para não amar o mundo baseia-se em dois argumentos, primeiro a incompatibilidade entre o amor pelo mundo e o amor pelo Pai (15,16) e, segundo, a transitoriedade do mundo contrastada com a eternidade daquele que faz a vontade de Deus (17). Versículo 15Não ameis o mundo–  Algumas pessoas têm ficado confusas quanto a como este mandamento para não amar o mundo pode conciliar-se com a afirmação do amor de Deus pelo mundo em Jo 3:16.

Há duas explicações possíveis. A primeira é que o mundo tem conotação diferente nestes versículos. Visto como pessoas, o mundo deve ser amado. Visto como um mau sistema, organizado sob o domínio de Satanás e não de Deus, não deve ser amado. A segunda explicação é que é o verbo “amar”, e não o seu objeto “o mundo”, que tem um diferente matiz de significado. No primeiro caso, é “o santo amor de redenção”, no outro, é “o amor egoísta de participação” (Alford). O primeiro visa a “salvar a pessoa do pecador”; o segundo, a “participar do seu pecado” (Ebrard). Assim a NEB: “Não coloqueis os vossos corações no mundo ímpio”. Talvez haja uma sutil mudança de ênfase nas duas palavras. O mandamento é intransigente. O cristão deve amar a Deus (5) e a seu irmão (10), mas não deve amar o mundo.

E o amor é matéria própria para esse mandamento e proibição porque não é uma emoção incontrolável, mas a decidida devoção da vontade. A razão pela qual somos intimados a não amar o mundo é que “o amor pelo Pai” (RSV) e o amor pelo mundo são mutuamente exclusivos. Se um homem é absorvido pela perspectiva e pelos interesses do mundo que rejeita a Cristo, é evidente que ele não tem amor pelo Pai. “A amizade do mundo é inimiga de Deus (Tg 4:4). “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6:24; Lc 16:13), é se não podemos servir a Deus e a Mamom, tampouco podemos amar o Pai e o mundo. Versículo  16 – Se houvesse algumas coisas no mundo (no sentido técnico em que João emprega esta frase) que fossem do Pai, isto que Lhe devessem a sua origem e existência, poderíamos amá-las. Mas visto que tudo que há no mundo. . . procede do mundo, nada dele podemos amar.

João seleciona para menção especial a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Estas coisas lhe parecem “as marcas essenciais do modo pagão de viver” (Dodd). A primeira descreve o desejo de nossa natureza decaída e pecaminosa. Pode-se dizer que ela está “no mundo” porque o mundo, em que reina o diabo, é a esfera da sua livre operação. É notável que no espaço de três versículos João menciona o mundo, a carne e o diabo (14-16). A segunda parece indicar tentações que nos assaltam, não de dentro, mas de fora, através dos olhos. Esta é “a tendência para deixar-se cativar pela exibição externa das coisas, sem investigar os seus valores reais” (Dodd). A visão que Eva teve da árvore proibida como “agradável aos olhos”, o olhar cobiçoso de Açã, vendo “entre os despojos uma boa capa babilónica”, e o olhar lascivo de Davi quando viu Bate-Seba tomando banho, são exemplos óbvios (Gn 3:6; Js 7:21; 2 Sm 11:2).

A concupiscência dos olhos inclui “o amor pela beleza divorciado do amor pela bondade” (Law). Destas três expressões, a soberba da vida (hê alazoneia tou biou) é a mais difícil. Enquanto zõê significa “vida em seu princípio essencial”, bios é “vida em sua manifestação atual e concreta” (Westcott). Ocorre de novo em 3:17 na expressão ton bion tou kosmou, traduzido por, “recursos deste mundo”. O alazon era um fanfarrão (Rm 1:30; 2 Tm 3:2; Tg 4:16), “uma fraude pretensiosa e convencida” (Dodd), que procura “impressionar todos que encontra com a sua inexistente importância” (Barclay). Portanto, a soberba da vida é uma arrogância ou vanglória relacionada com as circunstâncias externas de alguém, seja a riqueza ou a posição ou o vestuário, “ostentação pretensiosa” (Plummer), “o desejo de brilhar ou de ofuscar outros” com uma vida luxuriosa (Ebrard).

 Alguns comentadores viram “esta tríade do mal” (Plummer, Findlay) exemplificada nas três tentações do Senhor no deserto, e igual[1]mente na tríplice atração do fruto proibido sobre Eva (Gn 3:6). Mas nenhum paralelo é suficientemente próximo para supor-se que houve a intenção de alusão deliberada. Nem há correspondência muito óbvia entre esses aspectos do mundo e os “três principais vícios que ocupam lugar proeminente na ética antiga e medieval” (Westcoot), a saber, voluptas, avaritia e superbia (volúpia, avareza e orgulho). Findlay resume os três termos de João como “duas cobiças e uma vaidade, duas formas de depravação provenientes das nossas necessidades, e uma, de nossas posses — o desejo ímpio de coisas que não se- têm, e o orgulho ímpio por coisas que se têm”. O resumo de C. H. Dodd é, “desejos sórdidos, valores falsos, egoísmo”.

Fonte: Livro -1,2e 3 João
Introdução e comentário
Auto: John R. W. Stot

Pags: 86-87


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