O exorcismo (8:26-33). Este milagre foi realizado num ambiente predominantemente gentio. Havia alguns judeus na área, mas a população era principalmente gentia. 26,27. A terra dos gerasenos nos apresenta um problema, pois Gerasa ficava a cerca de 64 km ao sudeste do lago. Mateus registra “a terra dos gadarenos”, mas Gadara fica a 9 km de distância, e separada pelo desfiladeiro profundo do Iarmuque. Todos os três Sinotistas têm as duas variações, e também uma terceira, “o país dos gergasenos.” Este último texto era favorecido por Orígenes, que achava que os outros dois lugares estavam demasiadamente distantes, e que os textos tinham surgido somente porque os escribas não sabiam da existência da pequena cidade de Gergosa, e, portanto, substituíram-no por nomes que conheciam (ver, por exemplo, Manson). Os estudiosos modernos indicam a vila de Khersa e pensam que talvez esta tenha retido o nome antigo. Pode ser certo, mas permanece a suspeita de que o texto é achado nos MSS somente porque Orígenes deu origem a ele. Se qualquer dos outros está correto, devemos entender que a respectiva cidade controlava uma faixa de terra até à beira do lago. Quando Jesus aportou neste território, veio ao seu encontro um endemoninhado. O infeliz não usava roupas, e vivia entre os sepulcros.
28, 29. O homem era violento. Já tinha sido preso com cadeias e grilhões (i.é, algemas para as mãos e os pés). Mas ele tudo despedaçava, o que demonstra sua grande força. Quando Jesus mandou o demônio sair dele, gritou e passou a uma resposta semelhante à do endemoninhado em 4:34, só que Jesus agora é saudado como Filho do Deus Altíssimo ao invés de “o Santo de Deus.”
30. Jesus perguntou ao homem qual era seu nome. A resposta é Legião, que parece ser um modo de dizer que um regimento inteiro de demônios entrara nele (numa legião romana, havia cerca de 6.000 soldados). Alguns pensam que há uma referência às legiões romanas, e que alguma experiência traumática com os soldados fosse à origem da triste situação do homem.
31-33. Os demônios reconheceram que teriam de deixar o homem, e pediram que não fossem enviados para o abismo. Este é um lugar para o confinamento dos espíritos, até mesmo de Satanás (Ap 20:1 ss.)27 Ao invés disto, pediram que lhes fosse permitido entrar numa grande manada de porcos que pastavam ali perto. Jesus lhes deu permissão e os demônios deixaram o homem e entraram nos porcos. Os animais se precipitaram por um despenhadeiro para dentro do lago, onde se afogaram. Há uma dificuldade em ver como demônios pudessem entrar nos porcos, e outro em por que os porcos agiram desta maneira. Mas já que sabemos pouca coisa acerca daquilo que os demônios podem fazer, provavelmente não devemos levantar tais questões. Alguns vêem uma dificuldade adicional em que Jesus curou o homem às expensas dos donos dos animais. A isto, a resposta básica deve ser que a cura do homem era mais importante do que uma manada de porcos. Alguém poderia seriamente sustentar que os porcos deveriam ter sido poupados e o homem deixado sem cura? Farrar também indica que “a libertação da vizinhança do perigo e terror deste maníaco selvagem era um benefício maior à cidade inteira do que a perda desta manada.” Deve ser lembrado, também, que Jesus nem enviou os demônios para os porcos (nada mais fez do que lhes dar permissão), nem mandou os porcos para o lago (a narrativa não diz que determinou a destruição dos porcos). A reação (8:34-39). Lucas passa a tratar do modo em que o milagre afetou tanto o respectivo homem e o povo do distrito.
34-36. Os donos dos porcos, como seria natural, fugiram, e espalharam a notícia. As pessoas passaram a vir ver por si mesmas. Acharam aquele que fora endemoninhado assentado aos pés de Jesus, vestido e em perfeito juízo. Obviamente, alguma coisa estranha acontecera, e ficaram dominados de terror.
37. Com toda a evidência de que um grande milagre tinha sido operado diante delas, estas pessoas passaram a rejeitar a maior oportunidade das suas vidas. Poderiam ter dado as boas-vindas a Jesus, que liberta os homens dos demônios. Ao invés disto, possuídos de grande medo, pediram-Lhe que Se retirasse. E assim, Ele partiu. O medo deles pode ter sido devido a uma reação supersticiosa ao poder sobrenatural que tão evidentemente estivera em operação. É possível que também tivesse conexão com as perdas materiais envolvidas com a destruição dos porcos. Se for assim, viam Jesus como elemento perturbador, mais interessado em salvar os homens do que na prosperidade material. Era mais cômodo pedir-Lhe que Se fosse.
38,39. Com o homem curado, o caso era diferente. Rogou que fosse permitido acompanhar a Jesus. Ele não poderia ficar perto demais do seu Benfeitor. Mas havia trabalho para ele noutra parte. Jesus o mandou de volta para casa, com a instrução: conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Como resposta, o homem proclamou tudo quanto Jesus lhe tinha feito. Lucas, decerto, quer que captemos a alusão de que aquilo que Jesus fizera, Deus fizera. O mandamento no sentido de contar o milagre contrasta-se com a injunção ao silêncio noutros lugares (4:41). Talvez neste território predominantemente gentio haveria pouco perigo de despertar especulações messiânicas. E, agora que tinham pedido que Jesus partisse, era mais importante do que nunca que nesta região houvesse alguém para testificar daquilo que Deus estava fazendo através dEle.
Fonte Consultada:
Série Cultura Bíblica – Introdução e Comentário – O Evangelho de Lucas
Leon L. Morris
Pags:147-149
A Vocação do Seu Chamado…
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