Teologia do Antigo Testamento

Antes de falarmos sobre a teologia do Antigo Testamento, eu começo com uma pergunta, que relação tem o Antigo Testamento com a fé cristã?

Alguns chamam o Antigo Testamento de bíblia hebraica, pois ele fala sobre o povo de Israel, será que ele tem uma mensagem pra nós hoje?

O autor Ralph L. Smith não procurou debater ou discutir, mas sim apresentar dados sobre o que se tem sido feito nesse campo, ele procura passar informações sobre o que se tem pensado sobre esse assunto.

A disciplina em sua forma moderna teve início no final da década de 1700, esse termo Antigo Testamento é um termo cristão, pois os judeus usam o termo bíblia hebraica, escritura ou tanakh, esse termo teologia já era utilizado pelos gregos para descrever histórias e ensinar acerca de seus deuses, alguns teólogos acreditam que a igreja cristã ressignificou esse termo para aplicar ao Deus de Israel.

A teologia bíblica é uma preocupação protestante, para alguns teólogos essa teologia surgiu porque Cristo e a igreja primitiva via nele o cumprimento das esperanças e promessas veterotestamentárias, para eles a religião de Israel foi um processo progressivo, um povo que vivia do politeísmo e estavam num processo monoteísta, esses estudiosos não aceitam a ideia que o Antigo Testamento aponta para Cristo, pois denigre o judaísmo moderno.

Para esses estudiosos o Antigo Testamento deveria ser aplicado em seu contexto, pois associá-lo ao Novo Testamento e com o cumprimento em Cristo é uma forma de alegorização, pois o Antigo Testamento está repleto de fábulas, mitos, lendas, etc….

Os autores do Novo Testamento nunca questionaram a natureza escriturística do Antigo Testamento, Jesus afirmava que veio cumprir a lei e complementá-la, preenchendo-a com um significado mais elevado e pleno, então eles queriam convencer os judeus que Jesus era o messias utilizando as passagens do Antigo Testamento.

Esse método de fazer uma interpretação do Antigo Testamento de uma forma crítica surgiu a partir do racionalismo do séc. XVIII, em 1878 marca o início do fracasso da teologia do Antigo Testamento, para Wellhauser a religião de Israel se desenvolveu de modo natural, e Israel imitou as festas agrícolas de seus vizinhos pagãos e a partir do exílio quando surge o Deuteronômio essas festas foram incorporadas a Israel como plano de redenção. 

Gerhard Von Rad acreditava que o pentateuco foi organizado por um javista que tomou diversas tradições diferentes para ele entre a tradição oral e o período que foi escrito houve uma redação javista.

Karl Barth acreditava que o Antigo Testamento pode ser considerado para a igreja cristã como uma história descritiva que se cumpriu em Cristo.

O que eu pude perceber com essa introdução do livro de Teologia do Antigo é que cada teólogo do Antigo Testamento usa um método de interpretar o Antigo Testamento porque não existe um padrão específico, alguns seguem uma linha crítica e outros uma linha mais conservadora.

Nesse livro o autor utilizou o método de Teologia Sistemática.

Revelação de Deus

Em todas as culturas antigas o homem buscava a Deus, o homem sempre teve conhecimento de Deus, acreditava na sua transcendência.

No Antigo Testamento Deus se revela ao Homem através da natureza que criou como vemos em salmo 19, através de seus atos poderosos, através das teofanias, mas as teofanias pra muitos estudiosos não era algo único em Israel, pois para eles essas manifestações eram observadas em outras culturas cananeias, egípcias, etc..

Deus também se da a conhecer nos eventos históricos, pelas experiências, através dos livramentos que ficam gravados na memória do povo e são transmitidos de geração para geração formando uma tradição oral, e Deus também se da a conhecer pelo seu nome.

Deus de Aliança

Deus se mostra no Antigo Testamento como um Deus de Aliança, como um Deus que tem uma aliança com Israel, esse termo aliança já vem de outros povos, o Deus dos hititas tinha uma aliança com seus vassalos e assim protegia-os, para Wellhauser Israel só vai se apropriar desse termo aliança no período pós- exílico, ressignificando esse termo aliança à esperança, que por mais que tivessem ido pro exílio, Deus tem uma aliança com Israel e não esqueceu deles e iria restaurá-los.

Deus Salvador

Israel conhece a Deus como salvador antes mesmo de conhecê-lo como Senhor, Javé se revelou por meio do que fez para Faraó e para os israelitas, com sua mão poderosa e seu braço estendido livrou da servidão um grupo de escravos.

Ronalds Clements diz que o Antigo Testamento procura mostrar Deus como um ser sobrenatural singular que se manifestou a Abraão, Moisés e outras figuras na vida de Israel, sendo Senhor e único criador do universo.

Para a igreja cristã a salvação está relacionada com a queda no Éden para o deuteronômio a salvação esta relacionada com a quebra da aliança com Javé, à salvação para muitos estudiosos aqui no Antigo Testamento esta relacionando a salvação das injustiças, das explorações, se converter aqui é para respeitar os direitos do próximo.

Para Young a salvação no Antigo Testamento designa mais o livramento de males físicos do que do pecado, a salvação possui diversos significados e abrange várias áreas.

Deus Abençoador

Deus se revela no Antigo Testamento com um Deus abençoador, as bênçãos estão ligadas a provisão diária, algo que Deus dá a todas as pessoas, as bênçãos estão ligadas a aliança, Israel deveria obedecer para se abençoado, caso contrario a maldição os alcançariam, as bênçãos são ligadas ao culto, somente adorando o Deus Javé seriam abençoados.

Deus Criador

G. Ernest Wright afirma que o povo de Israel só conheceu a Deus como criador por intermédio da aliança deuteronomista, só a partir desse momento Israel começou a se relacionar e a conhecer sobre o Deus criador.

Alguns teólogos acreditam que a criação não é dado primário da fé israelita, mas secundário, que veio acompanhando a redenção, acreditando que a criação mencionada em Gênesis não é próprio de Israel, pois os povos vizinhos já utilizavam algumas narrativas de criação parecida como a de Gênesis, uma narrativa bem conhecida é a de Enuma Elish, na qual Marduqui mata o dragão Tiamat e o corta em duas partes, a parte superior faz os céus e a parte inferior faz a terra.

Quando Deus começa a dar nomes às coisas é pra mostrar que tudo é criação dele e esta sob seu domínio, para Von Rad Israel ressignificou os ritos e crenças astrológicas e aplicou para o Deus de Israel, trazendo esperança para o povo que estava arruinado após o exílio, pois o criador os restauraria.

Santidade

A santidade também não é um termo próprio de Israel e quando se fala em santidade no Antigo Testamento, está dizendo que Deus é transcendental, inacessível, temível, algo sagrado que devora, que destrói, por isso não pode se aproximar dele, um exemplo é o de Manoá que achava que iria morrer por ter visto Deus –Juízes 13:8-25, hoje as pessoas fazem uma interpretação que a santidade é só referente a sexualidade, moralidade, mas a santidade nos conduz para um caminho de justiça, retidão, pureza, compaixão, etc..

Ser santo como Deus, ou seja, ser justo, ser reto, ser puro e ter compaixão como Deus.

Amor

Diversas vezes o Antigo Testamento fala do amor de Deus por Israel, essa expressão amor também é encontrada em ugarítico, aramaico, púnico e samaritano, podemos perceber que a nação de Israel é preciosa para Deus, pois ele amou, redimiu, renovou.

Dependendo da palavra usada pra descrever o amor de Deus por Israel nos leva aos diversos sinônimos, graça imerecida, amor fiel, misericórdia, força, fidelidade, compaixão, amor por escolha, amor imerecido de alguém superior por alguém inferior.

Adoração

O Antigo Testamento afirma que Javé é único Dt 6, e que somente ele é Deus Dt 4:35.

Essa ideia de Javé que deve ser adorado por Israel foi desenvolvida aos poucos, o Deuteronômio não nega a existência de outros deuses, mas torna Israel povo exclusivo para sua adoração, pois Israel deve obediência a Javé, sendo que Javé é suficiente para Israel, com o tempo Javé foi atribuindo os atributos de outras divindades.

O Ser Humano

O Antigo Testamento não tem uma resposta exata para esta pergunta, QUEM É O HOMEM?.

Mas provoca perspectivas por aquele que o avalia e a partir dai se constrói reflexões interpretativas, Salmo 08.

O Antigo Testamento vê o ser humano como um todo, como uma alma vivente, como um ser vivo.

Wolf em seu livro ele interpreta o ser humano como um ser criado, um ser semelhante a Deus, uma criatura social e um ser unitário, para alguns estudiosos do Antigo Testamento o homem é um ser vivo que quando morre tudo se acaba.

Para Platão a alma é imortal ela está presa em um invólucro chamado corpo, já para Aristóteles o homem possui uma alma enquanto possui vida e assim que morre a alma morre junto.

O Antigo Testamento se preocupa com a salvação do ser por completo e não somente da alma, pois essa é uma visão cristã.

O ser humano em Enuma Elish é criado para trabalhar, e foi ressignificado em Gênesis 2, já no Egito possui um Deus chamado Knum que está sentado como oleiro e modelando o príncipe, que é criado do barro.

O ser humano foi criado para ser um ser social, pois em Gn 1:27- Deus cria homem e mulher sendo sua imagem, o homem não foi criado para ser só, já em Gn 2:4b-25- Iavé cria Adão e logo após cria uma auxiliadora.

Para Christoph Barth a referência para auxílio é aliviar a solidão, companheirismo, parceria verdadeira e infalível.

Em Gênesis 1, os dois são criados em igualdade, para Iavé não existe diferença entre os sexos, ninguém é inferior, e em Gênesis 2,  Deus cria uma companheira para o homem com os mesmos direitos.

O Antigo Testamento mostra que o casamento é propósito de Deus, Javé queria que eles se reproduzissem e se multiplicassem Gn 1:28, o casamento se torna a norma no Antigo Testamento Pv 5:15-20. Sacerdotes, nazireus e recabitas também se casavam e tinha famílias Lv 21:13, Jz 13:3-5, Jr 35:6-10, apenas Jeremias recebeu ordem de não se casar Jr 16:1-2.

Proibia-se casar com membros de outras nações, uniões abomináveis. A alegria genuína, companheirismo, apoio e ajuda eram bênçãos do casamento, os dois se tornariam uma só carne e formariam uma família, a esposa era considerada uma extensão do próprio marido, esposa e marido constituem uma só unidade legal.

Mas numa visão antropológica o casamento no antigo oriente era uma prática social e envolvia até questões políticas.

Mesmo com sua individualidade o ser humano no Antigo Testamento se considerava parte de um grupo e respeitava as regras.

Pecado

Quando falamos sobre pecado e redenção no Antigo Testamento, temos que verificar o pensamento da época do povo judeu, na época a preocupação era a salvação do ser humano como um todo, e não a salvação só da alma. Essa foi uma ideia posterior a essa época, para alguns estudiosos do Antigo Testamento a salvação era algo presente e não algo futuro.

O pecado representava a violação das leis, a violação dos direitos dos humilhados e oprimidos, pois as elites estavam oprimindo e roubando o povo, alguns profetas, sacerdotes e juízes estão na lista da elite opressora.

Morte

Quando se fala em morte no Antigo Testamento, temos que entende-la como os judeus nessa época a enxergava.

No Antigo Testamento a morte sempre é lembrada, porque é uma realidade e isso difere de Deus que é eterno Sl 90:2, Hc 1:12,  A ilusão da mortalidade natural ou inerente é mentira da serpente Gn 3:4, o ser humano é um ser mortal, acreditava-se que quando alguém morria precisava ser enterrado no túmulo da família e com isso a se encontrava descanso junto com os ancestrais Gn 25:8-10,17, 35:29, 49:33, Nm 20:24, Dt 32:50.

 A morte é o oposto da vida, cessar da respiração Jó 34:14-15, Sl 104:29, 146:4.

A vida é uma dádiva de Deus, a morte é mais que a cessação da vida física, ela pode referir-se a qualquer coisa que ameaça ou enfraquece a vida ou a vitalidade como pecado, doença, escuridão, água ou mar.

Para a mentalidade antiga a doença era um estágio de que a pessoa estava próxima à morte Sl 6:4-5, Is 14:4-20.

O Antigo Testamento não explica o que acontece quando alguém morre, para Werner H. Schmidt o que sai do homem na morte não é a alma imortal, mas a força vital enviada por Deus- Ecl 12:7, Já para Eichrodt o que sobrevive não é uma parte da pessoa viva mais uma imagem de sombra da pessoa inteira, no Antigo Testamento o morto representa impureza.

Sepultar um morto no túmulo da família era o costume em boa parte do Antigo Testamento Gn 25:8-10, 35:29, 49:33, Js 24;30-32, Jz 8:32, 16:31, 2Sm 2:32, 17:23, 19:37, 21:12-14, ficar insepulto era a pior de todas as maldições.

Dava- se muita importância para o sepultamento em Israel, alguns estudiosos especulam que existiam uma crença que os espíritos vagueavam caso o corpo não fosse sepultado, para Eichrodt um túmulo é um túmulo é nada mais.

No Antigo Testamento o morto é enterrado e vai para o sheol.

A ideia de julgamento após a morte vem do Egito que é extraída do livro dos mortos, que se acredita que, após a morte a pessoa tem seu coração arrancado e colocado de um lado da balança e no outro lado coloca-se uma pluma, que representa a pureza, a justiça, e se o coração pesar mais que a pluma o coração é devorado pelo monstro e a pessoa é condenada.           

A doutrina de vida após a morte se desenvolveu lentamente em Israel, já os povos vizinhos acreditavam nessa vida após a morte, sendo que os povos antigos como os egípcios, cananeus e babilônicos faziam da morte um deus e divinizavam algumas pessoas que morriam.

Resumo do livro: Teologia do Antigo Testamento, Autor: Smith. L. Ralph, Editora: Vida Nova



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