Verificando os patriarcas

A antiga abordagem da escola Albright para com a historicidade das narrativas patriarcais foram sem dúvida iniciadas pela surpreendente verificação arqueológica do império heteu. Agora reconhecido como o terceiro grande império da história antiga no Oriente Próximo, os eruditos não podiam fazer outra coisa senão observar que as referências aos heteus, os filhos de Hete (Gn 10.15), estavam abundantemente espalhadas por todos os relatos patriarcais (Gn 11.27—50.26). Por razões semelhantes, uma reavaliação moderna da evidência arqueológica para os patriarcas tem levado alguns eruditos de volta à uma visão mais conservadora da historicidade dos relatos de Gênesis (Gn 12— 36). Por que isso
está acontecendo? O professor Nahum Sarna recentemente fez esta observação:

Como um todo, as narrativas patriarcais possuem um sabor próprio sem paralelo no restante da Bíblia. Elas refletem um padrão de vida e várias instituições sócio-legais que são peculiares ao período, mas freqüentemente atestados nos documentos do Oriente Próximo… a antiguidade das tradições de Gênesis é confirmada por várias práticas patriarcais que diretamente contradizem os valores sociais e as normas de uma era posterior…


A narrativa bíblica dos patriarcas (incluindo José) em Gênesis 12— 50 indica um período de Bronze Médio datado do mais recente terceiro milênio aos meados do segundo milênio a.C. (2166-1805). A evidência arqueológica para este período tem emergido na forma do Código de Hamurábi, textos heteus e egípcios, e milhares de tabletes de argila da cidade amorita de Mari (Tel Hariri), a cidade horita de Nuzi, e as cidades de Leilan e Alalakh. A estes podemos acrescentar o fabuloso achado no sítio sírio de Ebla (Tel Mardique), que apesar de ainda controvertida, tem oferecido algum material comparativo. Esta evidência inclui códigos de lei, contratos legais e sociais, e textos religiosos e comerciais. Uma geração atrás, o argumento que estes artefatos criaram para a antiguidade e historicidade dos patriarcas era mais aceito do que é hoje.

Em tempos recentes, eruditos minimalistas têm desafiado estas conclusões. Seus esforços, porém, ao invés de serem destrutivos para a posição maximalista, têm cooperado com ela removendo elementos inconsistentes ou desnecessários para o retrato bíblico dos patriarcas. Em particular, a análise minimalista crítica de Thompson quanto a supostos paralelos entre os tabletes de Nuzi e os costumes sociais dos patriarcas tem ajudado a aprimorar o uso desses textos para uma reconstrução maximalista mais acurada da era patriarcal. Mesmo assim, a correção dos paralelos baseados no material de Nuzi, tem provado ser muito mais do que Thompson originalmente propôs. Enquanto ali repousa menos evidência arqueológica para este período do que talvez qualquer outro, comparações cuidadosas de relatos bíblicos com a informação disponível têm oferecido os seguintes argumentos para a sustentação da historicidade patriarcal.

O mundo dos patriarcas

Os textos de numerosos contratos do antigo Oriente Próximo revelam que o cenário social retratado nas narrativas patriarcais é exato e se encaixa no tempo sugerido pela cronologia bíblica. Um ponto de comparação entre estes textos e a Bíblia envolve leis que regiam a herança. Em Gênesis 49, Jacó abençoa seus 12 filhos, dividindo uma fatia igual da herança para cada filho. Isso, porém, mudou no Sinai, pois a lei mosaica estipulava que o filho primogênito devia receber o dobro da herança (Dt 21.15-17). Esta aparente contradição foi formalmente explicada pelos altos críticos de acordo com o documentário hipotético de Wellhause, que alegava que diferentes escritores compuseram relatos conflitantes do Pentateuco ao mesmo tempo na história pós-exílica de Israel.

Mas os textos extrabíblicos do antigo Oriente Próximo confirmam que apesar deste material poder ter sido editado para uma forma definitiva num período posterior, sua composição original poderia ter-se dado durante o tempo de Moisés. No caso da bênção patriarcal de Gênesis 49, uma fatia igual na lei das heranças é evidente nas leis de Lipit-Istar (século XX a.C.). Todavia, 200 anos mais tarde, no Código de Hamurábi (século XVIII a.C.), uma distinção é feita entre os filhos da primeira mulher de um homem — que têm a primeira escolha — e os filhos de sua segunda esposa. Então, quando comparamos os textos de Mari e Nuzi (século XVIII a XV a.C.) descobrimos que um primogênito natural recebeu uma porção dobrada enquanto um filho adotado não recebeu.

As leis neobabilônicas do primeiro milênio refletem uma progressão semelhante, com os filhos de uma primeira esposa recebendo uma porção dobrada e os demais recebendo uma porção única.
O egiptologista britânico Kenneth Kitchen sugere um número de outras
comparações sociais do registro arqueológico que oferecem correlação com uma data no segundo milênio. Sua lista inclui o preço de escravos em siclos de prata (como com José, Gn 37.28), a forma específica de tratados e alianças (Gn capítulos 21, 26, 31), condições geopolíticas (Gn 14), e referências ao Egito (Gn capítulos 12,45-47).

Exemplos adicionais propostos por eruditos incluem a domesticação de camelos (Gn 12.16), que foi atestada em textos até anteriores aos patriarcas, a adoção de filhos através de substituição (Gn 12.16), testemunhadas por contratos de casamento na antiga Assíria (século XIX a.C.), no Código de Hamurábi e em Nuzi, da lei mesopotâmica garantindo os direitos de herança de um filho adotado (assim como Eliézer em Gn 15.2-4). Em cada um desses textos, a informação arqueológica parece concordar exatamente coma nossa informação das condições naquela época. Por isso, de acordo com a mudança dos costumes sociais refletida por essas leis, somente o contexto do segundo milênio vai encaixar-se no tipo de prática de herança dos patriarcas.

Os nomes dos patriarcas

Um modo de determinar o espaço cronológico de personagens históricos é considerando seus nomes. Nomes tendem a refletir um ambiente cultural específico no tempo. Considere por um momento os nomes de seus pais e avós. Minhas avós chamavam-se Tabitha e Jesse, e meus avôs, Peyton e Ernest. O nome de minha mãe é Maurine e do meu pai era Elmo. Porque tais nomes são peculiares a um tempo eles raramente são passados adiante (exceto como iniciais) para a próxima geração. Hoje, na cultura americana é mais comum encontrar um Brandon, uma Sabrina ou Meagan. As principais exceções são nomes imortais tirados de grandes personagens do passado, mais freqüentemente figuras bíblicas.

Por esta razão sempre teremos Davis, Marias, Joãos e Paulos. Comecemos a considerar os nomes dos parentes mais próximos de Abrão,como seu bisavô Serugue, seu avô Naor e seu pai Tera (e o próprio nome de Abrão). Pesquisadores confirmaram que estes nomes aparecem em antigos textos assírios e babilônios e aqueles textos neo-assírios e correspondem aos lugares na região Eufrates-Habur da Siro-Mesopotâmia. Esta ligação geográfica com Abrão e sua linhagem concorda com os relatos bíblicos de que sua família veio de Ur e se estabeleceu em Harã (Gn 11.28,31).

Além disso, se tentarmos colocar os nomes dos patriarcas num ambiente cultural, descobriremos que eles são mais proeminentes no grupo linguístico semita do noroeste da população amorita do início do segundo milênio a.C. (como Mari), e exemplos do terceiro milênio também têm sido atestados em Ebla. Nomes com um prefixo i/y, como Yitzchak (“Isaque”), Ydakov (“Jacó), Yoseph (José) e Ysbmael (“Ismael”), pertencem a este tipo de nome, e a freqüência com que aparecem diminui significativamente no primeiro milênio e daí em diante. Assim, o tempo durante o qual os homens com este nome teriam vivido seria o período pré-israelita — um fato que está de acordo com o texto bíblico.

Os lugares dos patriarcas

Os lugares mencionados nas narrativas patriarcais também revelam umaconsistência histórica quando comparados à evidência arqueológica das ruínas de Ur, Hebrom , Berseba e Siquém. Em particular, a cidade de Harã na Mesopotâmia superior, que no texto bíblico parece ter sido um centro comercial durante o tempo de Abraão, foi abandonada depois do período patriarcal e continuou desocupada desde cerca de 1800 a.C. até 800 a.C. Observando este ponto, Barry Beitzel, um arqueólogo da Trinity Evangelical Divinity School, observa: “É altamente improvável [que alguém inventando uma história mais tarde] escolhesse Harã como um local-chave quando a cidade não havia existido por centenas de anos”.

Arqueologia- Livro: Arqueologia Bíblia-

Autor: Randall Price,

Editora: CPAD

Pags: 72 – 76


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