Não há qualquer declaração formal acerca da Igreja no Antigo Testamento, embora muitos intérpretes encontrem certas passagens que talvez sugiram algumas profecias a respeito dela. O livro de Cantares de Salomão, que é uma declaração de amor, é usado por muitos como uma metáfora do relacionamento entre Jesus (Noivo) e Sua Noiva (a Igreja). Em busca de alguma declaração do Antigo Testamento sobre a Igreja, Culver diz:
É inútil procurar no Antigo Testamento predições explícitas da formação de um corpo ou Noiva de Cristo com as feições especiais que estaremos examinando. Mas, como podemos ver agora, da nossa perspectiva, há vislumbres cujos cumprimentos ocorrem na igreja. O mais importante deles, sem dúvida, é a promessa a Abraão quando recebeu seu primeiro chamado: “E abençoarei os que o abençoarem (…) e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). 1
Deus sempre mostrou interesse em estender Sua graça salvadora a outros povos (2 Cr 6.32,33; SI 67.1-4; Is 56.6-8). Na sinagoga de Antioquia da Pisídia, logo no início da primeira viagem missionária, Paulo cita o profeta Isaías 49.6: “Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da terra” (At 13.47). Há algumas aplicações do termo ekklesia no Antigo Testamento referindo-se a “assembléia” ou a “congregação”, conforme o discurso de Estêvão: “Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar” (At 7.38). No livro dos Salmos, o termo “congregação” (SI 22.22,25) é citado pelo autor de Hebreus: “Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, cantar-te-ei louvores no meio da congregação”
(ekklesia) (Hb 2.12). Paulo fala do “mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações (…)” (Cl 1.26).
Geralmente, os intérpretes entendem que esse versículo diz respeito à Igreja; outros identificam esse “mistério” como o evangelho (Ef 3.8-10). Apesar de a Igreja não ser revelada objetivamente como tal nas Escrituras do Antigo Testamento, não é novidade que os gentios seriam alcançados, e Paulo identifica textos que trazem essas informações: “Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz em Oseias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 9.24-26). “Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé” (Rm 9.30).
Prossegue o apóstolo no capítulo seguinte: “Mas digo: Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas contra Israel diz: ,todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Rm 10.19-21). Em fazer dos dois povos, Israel e gentios, um só povo é que estava o “mistério que esteve oculto” a que Paulo se refere: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz” (Ef 2.14,15).
Hoje não há distinção. A salvação para todos segue o mesmo caminho; entretanto, depois do arrebatamento, Deus volta a lidar com Israel (Rm 10.12): “Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?” (Rm 10.16). Paulo dá-nos a entender que, ainda que a Igreja estivesse nas profecias do Antigo Testamento, nem mesmo os profetas entenderam do que se tratava. “Embora Paulo tenha encontrado provas da comissão missionária da igreja para evangelizar os gentios, bem como os judeus, no Antigo Testamento, não encontrou nada nele sobre a natureza especial da igreja”, diz Culver.2. A Igreja era um mistério que veio a ser desvendado “agora” (Rm 16.25,26). O apóstolo vislumbra a Igreja nos planos eternos de Deus. Segundo ele, a Igreja estava no coração do Pai e foi prevista antes mesmo da fundação do mundo (2 Tm 1.9; Ef 1.4).
1. CULVER, Robert. Teologia Sistemática Bíblica e Histórica. São Paulo: Shedd Publicações, 2012. p. 1096.
2, CULVER, 2012. p. 1098.
Fonte: TEOLOGIA PARA PENTECOSTAIS UMA TEOLOGIA SISTEMÁTICA EXPANDIDA, Vol 4, Pags 16-18
Autor: Walter Brunelli