Alguns definem o nome Éfeso como ‘desejável’. No tempo de João, Éfeso era a principal cidade da província romana da Ásia e nela estava a igreja mais importante de toda a província. Atualmente Éfeso está situada a uns quinze quilômetros da baia de Éfeso, em uma planície pantanosa. Mas no primeiro século ela era o porto mais importante de toda a Ásia Menor. Era também um centro religioso. Foi situada perto do mar Egeu. Duas estradas importantes cruzaram em Éfeso, uma seguindo a costa e a outra continuando para o interior, passando por Laodicéia. Assim, Éfeso teve uma localização importantíssima de contato entre os dois lados do império romano (a Europa e a Ásia). Historiadores geralmente calculam a população da cidade no primeiro século entre 250.000 e 500.000. Éfeso era conhecida, também, como a cidade de adoração da deusa Mãe da fertilidade, Ártemis (para os gregos) ou Diana (romanos) – Atos 19-35.
Um bonito templo era dedicado a esta deusa, conhecido com umas das maravilhas do mundo antigo. Este templo também era o lugar onde se adorava a deusa de Roma e o imperador romano. Éfeso era também o centro de todos os tipos de práticas supersticiosas, e era conhecida no mundo todo por suas artes mágicas (At 19.19). Sabemos algumas coisas sobre a história da igreja em Éfeso de outros livros do Novo Testamento. A igreja em Éfeso aparentemente foi fundada por dois cristãos de destaque Áquila e Priscila. No final de sua segunda viagem, Paulo deixou Aquila e Priscila em Éfeso, onde corrigiram o entendimento incompleto de Apolo sobre o caminho do Senhor (Atos 18:18-26). Na terceira viagem, Paulo voltou para Éfeso, onde pregou a palavra de Deus por três anos (Atos 19:1-41; 20:31). Na volta da mesma viagem, passou em Mileto e encontrou-se com os presbíteros de Éfeso (Atos 20:17-38). Durante os anos na prisão, Paulo escreveu a epístola aos efésios. Também deixou Timóteo em Éfeso para edificar os irmãos (1 Timóteo 1:3).
Destas diversas referências aos efésios, podemos observar algumas coisas importantes sobre essa igreja. Desde o início, houve a necessidade de examinar doutrinas e aceitar somente o que Deus havia revelado. Assim, Áquila e Priscila ajudaram Apolo (Atos 18:26); Paulo advertiu os presbíteros do perigo de falsos mestres entre eles (Atos 20:29-31), e orientou Timóteo a admoestar os irmãos a não ensinarem outra doutrina (1 Timóteo 1:3-7). A carta de Paulo aos efésios destacou a importância do amor (5:2), um tema frisado, também, nesta carta no Apocalipse.
Éfeso representa a Igreja doutrinária e espiritualmente pura. Esta foi a Igreja de Cristo e dos apóstolos.
Período Histórico – “1º século 31-100 d. C- Igreja Primitiva.
Aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro (v.1): A carta à igreja em Éfeso tem como prefácio uma referência a Cristo que inclui um elemento de encorajamento. O verbo grego traduzido por “conserva” é diferente do traduzido por “tinha” em 1.16. É uma palavra mais forte, que significa segurar com firmeza, mostrando que Cristo segura suas igrejas com firmeza em suas mãos para que ninguém agarre e essa palavra também indica uma vigilância constante sobre suas igrejas. Com essas palavras percebemos o conhecimento e a soberania de Jesus em relação às igrejas. Tanto os efésios como os discípulos nas outras igrejas precisavam lembrar-se da presença de Jesus. Ele anda no meio das igrejas, observando o procedimento delas, e pronto para agir quando for necessário. Segurando as sete estrelas, ele demonstra seu poder e domínio.
Cristo anda no meio de suas igrejas por toda a extensão da Terra. Observa com intenso interesse, para ver se o seu povo está espiritualmente em tal condição que possam promover o seu reino. Está presente em toda assembleia da Igreja. Conhece aqueles cujo coração pode encher do azeite sagrado, para que possam transmiti-lo a outros. Aqueles que fielmente levam avante a obra de Cristo, representando o caráter de Deus em palavras e ações, cumprem o propósito do Senhor para eles, e Cristo Se agrada deles.
Apocalipse 2-1 – Ao anjo da igreja em Éfeso escreve, “aos pastores”, dirigentes espirituais amparados por Cristo, são dirigidas essas palavras – aqueles a quem Deus confiou pesadas responsabilidades. As suaves influências que devem abundar na igreja têm muito que ver com os ministros de Deus, os quais devem revelar o amor de Cristo.
Qual é a função da liderança humana na Igreja, segundo o desígnio de Cristo? (Mat. 23:11) As pessoas escolhidas para ocupar posições de liderança na Igreja não devem encarar suas funções do mesmo modo que o fazem os personagens revestidos de autoridade no mundo secular. O ‘servo’ dirigente também é membro do corpo de que Cristo é a cabeça, e não deve procurar exercer a função que só pertence a Cristo. Sua autoridade deve ser mais de índole moral. Não é fácil de exercer tal espécie de liderança. Ela precisa inspirar incentivar e conduzir pelo exemplo, não pela imposição.
Em Apocalipse 2:2 – Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos. Conheço as tuas obras (v.2): Obras é um termo amplo, indicando, nãos somente boas ações, mas todo o comportamento e maneira de viver.
Jesus elogia várias qualidades da igreja em Éfeso:
As duas palavras, labor e perseverança, estão apostas as obras. As boas obras dos efésios consistiam na oposição firme aos falsos mestres que tinham surgido na cidade (At 20.29-30).
● Labor e perseverança – Deus quer servos dedicados que não desistem (Tiago 1:4). Jesus falou da importância da perseverança diante de perseguição (Mateus 10:22; veja Romanos 5:3; Tiago 1:12), observando que perseguições causam o amor de muitos a esfriar (Mateus 24:10-13). Devemos perseverar na oração (Atos 1:14; Colossenses 4:2; 1 Timóteo 5:5), na doutrina verdadeira (Atos 2:42; 1 Coríntios 15:1), nas boas obras (Romanos 2:7) e na graça de Deus (Atos 13:43). Na sua perseverança, os efésios suportaram provas e não se desanimaram.
As boas obras são descritas também pela afirmação de que eles não podem suportar homens maus.
● Não suportar homens maus – Na época da igreja primitiva surgiram muitos pregadores e mestres que diziam serem arautos do Espírito Santo e que falavam da parte de Deus.
Depois de tantas advertências sobre o perigo de falsos mestres, a defesa da verdade se tornou um ponto forte da igreja de Éfeso. Homens que se alegavam serem apóstolos foram postos à prova e achados mentirosos (veja 1 João 4:1). Precisamos do mesmo zelo da verdade hoje. O mundo religioso está cheio de pessoas que se dizem profetas e apóstolos. Devem ser avaliadas conforme a palavra de Deus. Pessoas que alegam trazer novas revelações são mentirosas (Gálatas 1:8-9; 1 Coríntios 13:8; Judas 3). Os apóstolos eram testemunhas oculares de Jesus ressuscitado (veja Atos 1:22; 1 Coríntios 15:8-9).
A igreja em Éfeso simbolizava a Igreja apostólica, que era conhecida por seu intenso labor e paciência. Os cristãos primitivos procuraram incansavelmente purificar a Igreja da contaminação moral e falsas doutrinas. Tendiam, porém, a se tornar dogmáticos e intolerantes. Seu raciocínio ficou confuso, e seus sentimentos se endureceram. Eles perderam aquele grande amor pelo Senhor e Seu evangelho que os impelira a princípio. Puseste à prova os que se dizem apóstolos – “Inúmeros versículos dos Atos e das Epístolas mostram a luta que tiveram os cristãos da era apostólica a fim de impedir que fossem introduzidas doutrinas pagãs na igreja (Por exemplo: I João 4:1-3; Atos 20:29 e 30; II Pedro 2:2).
Entre outras coisas, são mencionados casos, evidentemente muito conhecidos da irmandade, como por exemplo Himeneu e Alexandre (I Tim. 1:20; II Tim. 4:14-15) e Diótrefes (III João 9). Os nicolaítas provavelmente tenham sido tenham sido seguidores de Nicolau de Antioquia com ideias gnósticas. O gnosticismo, o docetismo e outras ideias não bíblicas constituíam ameaça à pureza doutrinária, mas eles retiveram a doutrina pura. Em Apoc. 2:5, admoesta-se a arrepender e voltar às origens (a doutrina bíblica e a piedade cristã) ou do contrário Ele tirará ‘do seu lugar o castiçal’. À luz de Apoc. 1:20, poderíamos entender que deixaria de ser igreja de Cristo, pois o Senhor não aceita a apostasia. Aqui temos uma forte evidência de que é a doutrina verdadeira. Devíamos voltar à mensagem bíblica dos dias apostólicos.”
Apocalipse 2:3 – e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste.
Apocalipse 2:4 – Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
O problema dos efésios não foi uma questão de doutrina correta, mas de amor. Abandonaram o seu primeiro amor. Esqueceram-se dos grandes mandamentos que formam a base para todos os ensinamentos de Deus (Mateus 22:37-40). Paulo instruiu os efésios sobre a importância do amor como alicerce da vida do cristão (Efésios 3:17; 4:2,16: 5:2; 6:23). Não devemos distorcer esta advertência para criar um conflito entre o amor e a verdade. Podemos defender a verdade, como os efésios fizeram e, ao mesmo tempo, praticar o amor. Foi exatamente isso que Paulo pediu aos efésios: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).
A Igreja perdeu seu primeiro amor. Ela tornou-se egoísta e amante da comodidade. Foi acalentado o espírito de mundanismo. O inimigo lançou o seu fascínio sobre aqueles a quem Deus dera luz para um mundo em trevas. O amor de Deus desapareceu, e isto significa a ausência de amor uns pelos outros. É acalentado o próprio eu, o próprio eu, o qual está lutando pela supremacia. Até quando isto irá continuar?
Apocalipse 2:5 – Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres.
Lembra-te, arrepende-te e volta: Jesus pede três respostas dos efésios:
- Lembra-te, pois, de onde caíste: Não foram as alfarrobas dos porcos que levou o filho pródigo ao arrependimento; foi à lembrança da casa do pai. Para os efésios se arrependerem, teriam que se lembrar da comunhão com Deus que deixaram para trás. Para permanecer fiéis, a presença de Deus precisa ser a coisa mais preciosa na nossa vida. Uma vez que caímos, é necessário desenvolver novamente o amor para com ele.
- Arrepende-te: O arrependimento é a mudança de atitude. Quando decidimos deixar o pecado e fazer a vontade de Deus, nós nos arrependemos. O pecador precisa se arrepender antes de ser batizado para perdão dos pecados (Atos 2:38). O cristão que tropeça precisa se arrepender e pedir perdão pelos seus pecados (Atos 8:22). Aqui, uma igreja cujo amor esfriou-se precisa se arrepender.
Arrepende-te – “Na linguagem bíblica, arrepender-se significa mudar de opinião. Da mesma maneira, converter-se significa dar meia-volta e caminhar em sentido contrário. Arrependimento significa uma mudança genuína da mente e atitude para com Deus e para si mesmo e também para com os demais. A pessoa arrependida por meio do Espírito Santo começa a ver as coisas como Deus as vê. Conversão, portanto, significa dar uma volta e retroceder no caminho da vida de pecado, avançando para Deus. Em Atos 3:19 “…arrependei-vos e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados.”
- Volta à prática das primeiras obras: A mudança de atitude (o arrependimento) produzirá frutos (Mateus 3:8). Pelas obras, a pessoa arrependida mostrará a sinceridade da sua decisão. A igreja em Éfeso precisava voltar à prática do amor.
Se a igreja não se arrepender, Jesus removeria o seu candeeiro. Eles não permaneceriam na abençoada comunhão com o Senhor. Tirarei do seu lugar o teu castiçal – “À luz de Apoc. 1:20, poderíamos entender que deixaria de ser igreja de Cristo, pois o Senhor não aceita a apostasia.
Lembra-te, arrepende-te, pratica – “Três palavras resumem a mensagem:
O Mestre está dizendo: ‘Lembra-te do teu gozo anterior, quando o verdadeiro amor enchia o teu coração. Arrepende-te de teus pecados; compreende o perigo de tua condição. Pratica as obras do teu primeiro estado, ou então Eu te removerei.’ Obras não produzem amor, nem podem tomar o lugar do amor. As obras são apenas a evidência do amor.” – Roy Allan Anderson, O Apocalipse Revelado, p. 26 e 27.
Apocalipse 2:6 – Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.
Mais um ponto a favor, reforçando o elogio dos versículos 2 e 3. Os nicolaítas são mencionados aqui e na carta à igreja em Pérgamo (15). Não sabemos a natureza precisa do seu erro, mas sabemos que era abominável a Deus. Neste ponto, os efésios odiavam o que Deus odiava. Nós devemos fazer a mesma coisa, sendo amigos do bem (Tito 1:8) e detestando o mal (Salmo 97:10). Mas, afinal quem eram os Nicolaítas – O que sabemos é que eram uma seita herética dos primeiros tempos da igreja, da qual nada sabemos fora do Apocalipse. Os antigos pais da igreja, começando por Irineu especularam que essa seita fora fundada por Nicolau, prosélito de Antioquia (At 6.5), que era um dos sete.
Na carta a igreja de Pérgamo encontramos mais informações sobre esses falsos mestres heréticos. Os nicolaítas praticavam os pecados de Balaão. Os versos 14 e 15 de Apocalipse identificam os pecados de Balaão com o dos nicolaítas. Quais eram os pecados de Balaão? O estudo das passagens que falam de Balaão revela que os seus pecados eram avareza, hipocrisia, idolatria e imoralidade. (Ver Núm. 22 a 24; 25:1 e 2; 31:8 e 16; II S. Ped. 2:15; S. Jud. 11.)
Apocalipse 2:7 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus. Cada uma das sete cartas é encerrada com esta exortação de ouvir o que o profeta escreve. Nela João não está se dirigindo só à igreja local, mas a toda a comunidade cristã. Frequentemente, Jesus chama os ouvintes a ouvirem a sua mensagem (Mateus 11:5; 13:9,43; etc.). O problema de um coração teimoso se reflete nos ouvidos tapados que recusam ouvir a verdade (Mateus 13:15). Os efésios provaram aqueles que falavam, agora eles seriam provados pela maneira de ouvirem.
Neste e nos versículos paralelos referentes às outras a participação em todos os aspectos da Nova Jerusalém é prometida aos santos fiéis (2.11,17,26; 3.5,12,21; 21.1-22.5). O Espírito diz às igrejas: O Espírito é o Espírito de Cristo (Rm8.9), que interpreta a voz de Cristo (2.1) para o profeta. O Cristo glorificado fala com sua igreja através do Espírito, e a voz é ao mesmo tempo do Espírito e de Cristo, pois o Novo Testamento estabelece um relacionamento íntimo entre o Cristo glorificado e o Espírito Santo e Paulo chega a afirmar que o Senhor é o Espírito (2 Co 3.17). A recompensa aguarda os vencedores que perseveram no amor e na verdade. Aqueles que desistem, abandonando para sempre o seu amor, não receberão o galardão. Jesus descreve a comunhão com Deus em termos que nos lembram do jardim do Éden. Por causa do pecado, o homem foi expulso do jardim em que Deus andava (Gênesis 3:22-24,8). Aqueles que andam com Deus têm a esperança da vida no paraíso do Senhor.
Comer da árvore da vida – A árvore da Vida é mencionada seis vezes na Bíblia, três vezes em Gênesis e três em Apocalipse. Para que o homem não vivesse eternamente como pecador, Deus não permitiu que comesse desta árvore (Gênesis 3:22-25), mas agora, redimido pelo sangue de Jesus, é prometido que os vencedores comerão da dita árvore: receberão a vida eterna. Por isso diz que eles não sofrerão dano da segunda morte (Apocalipse 2:11; 20:6). As promessas aos vencedores que aparecem no fim das mensagens às igrejas restantes, também estão relacionadas com a vida eterna. O vencedor recebe a promessa de que se alimentará da árvore da vida. O apocalipse fecha com uma bem aventurança sobre os que têm direito à árvore da vida (22.14). Paraíso é a palavra que a Bíblia utiliza para descrever a habitação de Deus. Nesse contexto o paraíso representa a Jerusalém celestial que descerá do céu quando do estabelecimento do Reino de Deus, quando o próprio Deus morará entre os homens (21.10; 22.4).
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